(Rm 12. 1-2 “ROGO-VOS,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não
sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus”).
Assim como Jesus, enviado pelo
Pai e ungido pelo Espírito, encarnou-se na sociedade e cultura de seu tempo,
também a Igreja deve se encarnar na sociedade e cultura de seu próprio tempo. A
cultura de nosso tempo é a forma de vida chamada de “pós-modernidade”. Como a
cultura no tempo de Jesus, ela oferece oportunidades e desafios para a missão
da Igreja. Seguindo o exemplo de Jesus, a Igreja deve se encarnar de forma
crítica na pós-modernidade. As duas características básicas da encarnação
missionária são:
1.
O
discernimento do Espírito (Cl 1.9-11 “Por esta razão, nós
também, desde o dia em que ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir
que sejais cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e
entendimento espiritual; para que possais andar de maneira digna do Senhor,
agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no
conhecimento de Deus, corroborados com toda a fortaleza, segundo o poder da sua
glória, para toda a perseverança e longanimidade com gozo”), a
fim de podermos distinguir entre o pecado e a justiça, o certo e o errado, o
bem e o mal, a verdade e o erro em nossa cultura e sociedade; e
2.
A
compaixão (Mc 6.34 “E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande
multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e
começou a ensinar-lhes muitas coisas”), para podermos anunciar o
Evangelho da salvação às pessoas que estão escravizados pelos poderes do pecado
e da morte, e que caminham cegas, como ovelhas perdidas, sem pastor.
O Desafio Da Fidelidade
A Religiosidade
Peregrina e Perambulante.
A forma predominante da
religiosidade pós-moderna é a da peregrinação. A religião é vista pelas pessoas
como um meio para conseguir resolver os problemas que a ciência, a técnica e a
política não conseguem resolver. As necessidades de saúde física, saúde emocional,
amor e companheirismo não são supridas adequadamente na sociedade pós-moderna.
Por isso, as pessoas buscam religiões que satisfaçam essas necessidades.
Entretanto, como somente Jesus Cristo pode satisfazer plenamente as
necessidades humanas – e transformar o nosso ser interior – a pessoa sedenta
busca resposta nas várias religiões que se apresentam no “mercado de bens
simbólicos” – dá uma passeadinha pelo caminho de São Tiago, toma um chazinho do
Santo Daime, vai pedir a bênção da Mãe Tereza, ou do Pai João, entrega um
dinheirinho na Universal, pega uma águinha benta na Catedral ... A
religiosidade pós-moderna não sabe o que é fidelidade, a não ser a fidelidade
ao interesse próprio, que pode ser chamada de egoísmo. E até no meio evangélico
já se começa a ver a penetração dessa perambulação pós-moderna, com os crentes
assistindo a todos os programas de TV e rádio, ouvindo todos os CDs que
consegue comprar, frequentando todas as reuniões de diferentes igrejas, etc.
Onde houver uma oferta de bênção, aí também o crente estará. A fidelidade a Deus
começa em casa. Para podermos dar testemunho aos peregrinos pós-modernos,
precisamos aprender a fidelidade, seguindo o exemplo de Jesus!
A Pregação
Do Deus Dinheiro e a Vida Sacrifical.
A outra face da religiosidade
pós-moderna não tem “cara” de religião. Por isso mesmo, é muito mais perigosa,
porque muitos não a reconhecem. A religiosidade pós-moderna tem como seu grande
“deus” o dinheiro – seja na forma de Capital, seja na forma de lucro, seja na
forma de desejo dele – que cobra uma séria e rigorosa disciplina sacrificial de
vida. Para que as economias funcionem bem, os países exigem “sacrifícios” de
seus cidadãos (desemprego, apertar os cintos, corte de gastos com saúde,
educação, transporte, moradia; privatizações sem fim ...), e na expectativa de
ter dinheiro para poder consumir, as pessoas se submetem ao estilo de vida
sacrificial exigido pelo Mercado. Nesse estilo de vida sacrificial, a compaixão
e a solidariedade não têm lugar. É cada um por si, e o “deus” dinheiro por
todos. Só que o deus dinheiro e seu profeta, o mercado, são deuses rigorosos
que não conhecem a compaixão. Não aceitam as pessoas que não conseguem competir
e vencer. Eles as excluem – do acesso à saúde, à moradia, à vida, à dignidade,
e exigem total fidelidade – mesmo excluídos, têm de aceitar a sua condição e
reconhecer o seu “pecado capital”. Quem não consegue “vencer” é sacrificado no
altar do lucro, da produtividade e da qualidade total. Lembremo-nos do que
ensinava Jesus: “ninguém pode servir a dois senhores ...”
(Mt 6,24)
A Fidelidade
Ao Verdadeiro Deus e a Seu Povo.
O primeiro grande desafio
missionário da pós-modernidade é o da fidelidade ao Deus verdadeiro. Só pode
fazer missão o povo que anda na presença de Deus e procura fazer a sua vontade.
Nas palavras de Jesus, “buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt
6,33). Somente quando o povo de Deus se submete ao reinado de Deus e tem a Sua
justiça como critério de vida e missão, é que pode fazer frente ao caráter
peregrino e sacrificial da religiosidade pós-moderna. Neste tempo em que as
informações voam distâncias e tempo através dos satélites e televisões, rádios,
Internet, etc. Neste tempo em que temos um volume de informações imenso, mas
pouco sabemos realmente de importante, é fundamental a fidelidade ao verdadeiro
Deus. Doutra forma, nossa mensagem cairá no vazio do excesso de informações. As
pessoas só crerão no Deus verdadeiro se virem a Sua verdade amorosa, justa e
compassiva em ação na vida dos filhos e filhas de Deus. Como diz uma canção
brasileira a respeito do culto: “E ao sairmos daqui, que poderemos fazer?”.
Deixar
Que o Mundo Veja Em Nós a Cristo e o Seu Poder.
Para fazer missão na
pós-modernidade, é preciso que nossa vida seja missionária, que nosso comportamento
seja semelhante ao de Jesus Cristo, que recusou todas as tentações satânicas,
todas as tentações de dinheiro, prestígio, consumo e poder, e foi fiel ao envio
do Pai, e submisso à direção do Espírito Santo. Como Jesus, precisamos conhecer
a Palavra de Deus para vencer as tentações (Mt 4.1-11 ).
O Desafio Do
Discernimento
A Vida
Não Refletida, Apenas Sentida.
Uma das características
fundamentais da chamada pós-modernidade é o abandono da reflexão crítica
racional. Reconhecendo a incapacidade da razão resolver todos os problemas
humanos, as pessoas que aderem ao novo modo de ser pós-moderno preferem levar a
vida a partir dos sentimentos e desejos, e não da reflexão, ou, em linguagem
bíblica, do discernimento. Sentir é mais importante do que saber, e sentir-se
bem é o que realmente importa para o indivíduo pós-moderno. Essa ausência de
reflexão é consequência da negação das utopias (propostas de transformação
social e econômica) e da afirmação do “fim da história” (a crença de que o
estágio atual do capitalismo neo-liberal é a forma mais completa da evolução
humana). Se nada há adiante de nós, se já alcançamos a forma mais evoluída
possível de organização social, econômica e política, para que refletir
criticamente sobre a realidade? Basta viver, e curtir a vida. Basta sentir e
deixar-se levar pelos sentimentos. Para que pensar, se os governantes irão
fazer o que for necessário para a vida melhorar? Para que pensar, se o mercado
“livre” é capaz de organizar a atividade das pessoas, distribuir oportunidades
e castigos? Vamos aproveitar a vida! Ou, nas palavras de um antigo filósofo, “comamos
e bebamos porque amanhã morreremos”! Precisamos de uma renovação de nossa vida
litúrgica, que está cedendo ao irracionalismo pós-moderno. Como consequência do
irracionalismo, na vida da igreja, nossos cultos têm cada vez menos conteúdo e
cada vez mais emoção. Cada vez menos Palavra de Deus, e cada vez mais desejos e
sonhos humanos. Cada vez procuramos menos agradar a Deus, e mais a nós mesmos –
afinal, “o culto não é para a gente se sentir bem?” Liturgias irracionais não
ajudam a Igreja a enfrentar a pós-modernidade. A rejeição da razão não é a
solução para os males da racionalidade moderna, voltada inteiramente para a
técnica e a eficácia. Ao invés de vivermos levados pelos sentimentos, precisamos
de uma racionalidade ampla, humana, plena. Precisamos de uma “razão comunicativa”,
que, ao invés de se centrar na técnica e eficácia, tenha seu eixo na
relação pessoal e social com o “outro” (próximo, na linguagem bíblica).
Como cristãos, em particular, precisamos de uma inteligência crítica, que nos
torne capazes de “... e estai sempre preparados para responder
com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em
vós” 1 Pd 3.15.
A Vida
Sem Integridade, Apenas Com Interesses E Desejos.
Uma vida vivida em função dos
sentimentos, além de negar a capacidade humana de crítica e pensamentos
construtivo, também nos torna fáceis presas de nossos interesses e desejos pecaminosos.
Vários são os sintomas da crise da razão
e do reinado do sentimentalismo. Por exemplo: a desestruturação da vida
familiar, em função de uma visão meramente romântica do amor, mediante a qual
“João ama Maria, que gosta de José, que ama Antônia, que prefere Pedro, mas
está triste porque ele ama José...”. Outra causa da desestruturação familiar é
o afastamento cada vez maior entre pais e filhos, a falta de comunicação
eficaz entre as gerações dentro de casa, a tentativa de cada lado impor a sua
vontade e seus desejos. Além da desestruturação da vida familiar, outro exemplo
da crise da razão é o abandono da integridade como padrão ético de
comportamento. Tudo vale para a realização dos desejos pessoais – uma
mentirinha, um jeitinho, uma fezinha... A palavra não precisa ser
cumprida, os compromissos não são levados a sério, os
relacionamentos pessoais servem apenas enquanto se “leva vantagem”; entre
os adolescentes e jovens a moda é “ficar”, pois quem “fica” não
se compromete com a outra pessoa. Não há integridade nos negócios, nas
relações pessoais, na política, no exercício do poder público. Neste
sentido, a pós-modernidade não é tão “pós” assim, pois a falta de integridade é
uma característica da pecaminosidade humana. Todavia, em nossos dias, como nos
tempos de Paulo, a ausência de integridade tem se tornado o ponto mais crítico
da ética individual e social (cp. Rm1,28-33). O mais preocupante,
porém, é a penetração da falta de integridade nos
meios evangélicos! Líderes internacionais de missões e pastoral, como
Frank Dietz e Warren Wiersbe têm escrito livros defendendo a necessidade
da volta da integridade à vida cristã, particularmente entre os líderes
do povo de Deus. Como poderá Deus nos escutar se não vivemos de forma
íntegra a Sua vontade? (cf. Amós 5,21a-24 “Aborreço, desprezo as vossas festas, e não me
deleito nas vossas assembléias solenes. Ainda que me ofereçais holocaustos,
juntamente com as vossas ofertas de cereais, não me agradarei deles; nem
atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o
estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Corra,
porém, a justiça como as águas, e a retidão como o ribeiro perene”).
Como anunciar o Deus da justiça sem integridade? Como crerão se não virem em nós
a verdade de Deus em ação?
A Vida Cheia Do Espírito Santo,
Refletindo E Crescendo No Saber De Deus
Contra o irracionalismo da
pós-modernidade, a resposta bíblica é a vida cheia do Espírito Santo. Em
sua exortação aos efésios, Paulo disse: “Sede verdadeiramente atentos a vosso
modo de viver: não vos mostreis insensatos (sem juízo, sem razão), sede, antes,
pessoas sensatas, que põem a render o tempo presente, pois os dias são maus.
Não sejais portanto sem juízo, mas compreendei bem qual é a vontade
do Senhor ... sede cheios do Espírito Santo” (Ef 5,15-18). A exortação
paulina é muito apropriada para os nossos dias. Precisamos de uma renovação da
vida intelectual da Igreja. Precisamos de que o povo de Deus assuma a sua
função de teólogos e teólogas! Pois é isso que Paulo está pedindo de nós. Estar
atentos a nosso modo de viver, sermos sensatos, significa refletirmos sobre a
nossa realidade à luz da Palavra de Deus, movidos pelo Espírito. E a teologia é
exatamente isso!
Na modernidade, a teologia era rejeitada em troca da “prática”, na pós-modernidade
ela é rejeitada em troca da “beleza”. Mas nós precisamos urgentemente dela. De
uma teologia prática, bela, racional e cheia do Espírito Santo. Precisamos de
uma teologia baseada no discernimento do Espírito, que nos faça andar de modo
digno do Senhor, que nos faça crescer no conhecimento de Deus, que
nos faça transbordar em boas obras missionárias (cf. Cl
1,9-11). Nossas igrejas precisam redescobrir o valor da reflexão
séria e profunda sobre a vida baseada na Palavra de Deus. Precisamos de
pastores que devolvam ao púlpito o seu vigor teológico, precisamos de
mestres que devolvam à educação cristã seu vigor pedagógico e reflexivo.
Precisamos de renovação de nossa vida eclesial, de nossos programas e
encontros, de forma que a reflexão ocupe um lugar tão importante quanto à comunhão,
a oração e a adoração a Deus. A renovação da vida dos
“leigos” é fundamental para que a Igreja possa realizar sua missão no mundo
pós-moderno. O primeiro grande desafio para o laicato
pós-moderno é a vida de discernimento. Precisamos de um povo cheio do
Espírito Santo, capaz de refletir sobre a vida sensatamente, capaz de
interpretar a Bíblia fielmente, capaz de anunciar a Palavra inteligentemente!
O Desafio Da Compaixão
Vivendo
Em Uma Sociedade e Economia Sem Compaixão
A sociedade capitalista
neo-liberal pós-moderna é perversa e sem compaixão. Nela só há lugar para as
pessoas capazes e competentes, que conseguem cumprir todas as exigências do
mercado de trabalho e de consumo. Cada vez mais as empresas exigem maior
qualidade para seus trabalhadores, e cada vez mais as maquinas substituem as
pessoas no desempenho de funções e realizações de serviços – e com isso aumenta
o desempenho, a economia informal e a marginalidade. Todavia, o capital neo-liberal
afirma que esse é o único caminho para a prosperidade de nações!
Decretando o “fim da historia o capitalismo neo-liberal tomou o lugar do
marxismo com a religião messiânica sem Deus. Nas pertinentes palavras de um
teólogo brasileiro, “não nos esquecemos
que o sistema de mercado, para conseguir totalizar-se como ‘único caminho’ para
o bem comum...exigia ser considerado com societas perfecta (sociedade perfeita)
e ‘única religião verdadeira’, fora da qual não há salvação para ninguém, ainda
que a condenação lhes tocasse a muitos. Para tanto era necessário um deus absconditus
(deus oculto) de uma infinitude realmente ‘perversa’, quer dizer, que virasse
tudo ao revés (per-verter) e direcionasse tudo em uma mesma direção: a auto
valorização sem limite, do capital. Já não se trata, obviamente, da simples
acumulação de dinheiro e riquezas. Estamos diante de um deus infinitamente
insaciável, para o qual todos os sacrifícios serão insuficientes.” (Hugo
Assmann, Clamor do Pobres e ‘Racionalidade’ Econômica , pp. 44s.) A sociedade
pós-moderna, dominada pelo “deus Capital” gera um sistema social de exclusão, mediante
o qual um número cada vez maior de pessoas é excluído do mercado de trabalho,
da educação, da saúde, da dignidade, da própria vida! As pessoas
excluídas são os “bodes expiatórios” dos pecados da ineficiência econômica
e da falta de competitividade produtiva. Em primeiro lugar
o bem-estar da economia, depois, cuidemos das pessoas. A chamada
“globalização” da economia traz consigo uma perversa globalização da miséria e
do sofrimento humano. Só tem valor àquilo que dá lucro, aquilo que aumenta a
produtividade e a qualidade, aquilo que é “total”. Nessa sociedade “qualidade
total” pouco lugar há para os seres humanos, que são parciais, incompletos,
pecadores. Recusados, ou elogiados, pelo “deus escondido”, as pessoas cada vez
mais se refugiam nas drogas, Na violência, nas religiões sem compromisso, sexo
sem amor, no individualismo, no consumismo; ou simplesmente caem para o
submundo da miséria , da fome da marginalidade. É a todas essas pessoas que
iremos pregar o Evangelho, pessoas sacrificadas ao altar do Capital, submissas
ao mando do seu profeta, o Mercado. Pessoas sem compaixão, porque acreditam que
a competitividade é o melhor meio de eliminar a pobreza e o sofrimento humano.
Pessoas sem compaixão, porque são vítimas sacrificiais de uma economia
perversa, e se tornaram brutalizadas pelo sofrimento. Neste contexto, o
segundo grande desafio para a Igreja é a vida de compaixão!
Compaixão
e Solidariedade Na Proclamação Do Evangelho
Precisamos de compaixão e solidariedade
para proclamar o Evangelho! Ao olhar para as pessoas e para as multidões
de seus dias, Jesus as via como “ovelhas sem pastor” e demonstrava-lhes
compaixão. A compaixão (solidariedade) era o motor de suas ações a favor das
pessoas (v. Mt 9.36; 14,14; 15,32; 20,34; Mc 6,34; 8,2; Lc 7,13, etc.). Jesus
demonstrava, através de seus atos, a compaixão de Deus pelos seus filhos e
filhas escravizados ao pecado; demonstrava a solidariedade do Deus encarnado
para com a humanidade pecadora (cf. Hb 2,14-17; 4,15-16). Para pregar o Evangelho
não posso ver o “outro” como adversário – a batalha espiritual não pode gerar
inimigos, mas, sim, pessoas reconciliadas com Deus e, consequentemente conosco
e com elas mesmas geramos, com a pregação do Evangelho, amigos e amigas
de Jesus Cristo (15,14-15). Para pregarmos o
Evangelho precisamos resistir à tendência desumanizadora e brutalizante de
nossa sociedade pós-moderna; precisamos resistir à tentação de vivermos apenas
em função de nós mesmos e de nossos interesses e desejos. Precisamos de solidariedade, compaixão: sentir osofrimento
do outro, como o nosso próprio sofrimento. Participar na libertação do outro,
como se a nossa própria libertação disso dependesse. E somos amigos e amigas de
Cristo, fazemos o que Ele manda. E o que Ele manda? “Eu vos escolhi
para irdes produzir frutos e para que o vosso fruto permaneça ... O que eu vos
ordeno é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,16-17). A Igreja
existe para anunciar o Evangelho – essa é a grande comissão de Jesus (Mt
28,18-20 e paralelos), e esse é o poder do Espírito (At 1,8) – e se ela não o
faz, deixa de ser povo de Deus, e se identifica com o mundo; torna-se sal sem
sabor, não prestando para nada. O maior adversário da proclamação do
Evangelho na pós-modernidade não é Satanás, mas a falta de compaixão, a falta
de solidariedade para com os pecadores, a falta de amor uns para com os
outros. O problema da evangelização não está nas técnicas, nos projetos, nas
estratégias, nos recursos financeiros. Há muitas formas diferentes de se
evangelizar e fazer missões. O problema é que nãotemos recursos humanos. Não
temos crentes dispostos a viver compassiva e solidariamente, fazendo da pregação
do Evangelho uma parte natural de seu dia-a-dia. Deus chama a Seu povo, nestes
dias do mundo pós-moderno, para viver em compaixão e solidariedade para com os
pecadores e pecadoras de nosso tempo. Sejamos solidários com os pobres e
excluídos que clamam por socorro. A partir dessa solidariedade, tenhamos
compaixão de todas as pessoas. Anunciemos,
com toda força de nossos pulmões, o Evangelho de Jesus Cristo, a boa notícia de
que Deus reina e pode mudar a vida das pessoas e das nações!
Compaixão
e Solidariedade Na Diaconia Cristã
Assim como Jesus fez acompanhar
sua pregação de sinais visíveis do amor de Deus pelos pecadores, também a
Igreja compassiva, na pós-modernidade, fará sua pregação da salvação ser acompanhada
dos sinais do Reino. Quem ama, é compassivo e solidário com a pessoa toda,
não faz divisão entre “alma” e “corpo”, pregando para salvar “a alma” e deixar
o “corpo” morrer. Jesus cuidava das doenças do corpo, das doenças
espirituais, dos problemas econômicos e sociais. Paulo, o evangelista aos
gentios, recebeu a recomendação de “nos lembrar dos pobres, o que eu
tive muito cuidado de fazer” (Gl 2,10). A diaconia cristã é a expressão
concreta da compaixão evangelizadora da Igreja. A diaconia é o meio pelo
qual a Igreja pratica as boas-obras para as quais cada cristão foi chamado por
Deus (Ef 2,10). Na pós-modernidade, precisamos discernir quais são as
boas-obras mais urgentes, ou quais as formas mais importantes de ação diaconal.
No âmbito da
economia, por
exemplo, a esmola já perdeu a sua eficácia (que tinha em períodos muito
antigos na história econômica da humanidade). O socorro econômico através da
esmola é insuficiente para livrar os pobres da miséria. É preciso ações mais
eficazes. Por exemplo: projetos sociais de capacitação profissional, projetos
sociais de desenvolvimento comunitário; movimentos sociais de luta contra o
desemprego, contra a fome; movimentos políticos pela adoção de mecanismos de
defesa econômica dos cidadãos, garantidos pelo Estado – por exemplo: renda
mínima, salário educação, etc.
No âmbito da saúde é preciso também atuar através de projetos de
desenvolvimentos (ambulatórios, clínicas voluntárias, etc.), e de movimentos
sociais e políticos (campanhas contra certos tipos de câncer, instituições especializadas
no atendimento a certos tipos de doenças e deficiências, etc.; movimentos
políticos que visem forçar o Estado a cumprir as metas de saúde pública
mínimas para garantir a dignidade dos cidadãos).
No âmbito da
cultura, é
preciso que as Igrejas atuem no despertamento de formas criativas de ação
cultural – seja na música, no teatro, nas artes plásticas, na literatura,
etc. É importante atuar em movimentos que visem o controle, pela sociedade, dos
bens culturais produzidos e difundidos pelos meios de comunicação de massa (TV,
rádio, cinema, etc.). Em uma palavra, é preciso que a Igreja atue de forma
a contribuir para que a cidadania seja uma verdade prática, e não apenas
um direito constitucional. Para que a mensagem do Reino pregada pela
Igreja seja entendida, é necessário que a Igreja demonstre os sinais do Reino
através de sua vida e da vida de seus membros. Na pós-modernidade, em que a
pessoa só é vista como consumidora, ou como produtora de bens, precisamos
ajudar a resgatar a condição cidadã das pessoas, com todas
as implicações sociais, econômicas e políticas da cidadania. Como cidadãos
do Reino de Deus, somos chamados a lutar para sermos cidadãos de um país justo
e livre e para demonstrar solidariedade plena para com os não-cidadãos! Para
isso o Espírito que ungiu Jesus, também pode nos ungir (cf. Lc 4,18-21;
7,18-23).
Conclusão
A pós-modernidade apresenta à
Igreja problemas e oportunidades imensas. Para superar os problemas e
aproveitar as oportunidades, precisamos do discernimento do Espírito e da
compaixão de Jesus. Por isso, o primeiro desafio da missão da Igreja na
pós-modernidade é a qualificação da Igreja como povo de pessoas cheias do
Espírito Santo, que sabem discernir e ser solidárias. Como povo de
ministros e ministras de Deus, discernindo a vontade de Deus e sendo solidários
com os pecadores, atuaremos no mundo como testemunhas de Jesus Cristo.
Nossa pregação e nossas obras demonstrarão verdade e o caminho do Reino de
Deus, e farão com que as pessoas desejem servir a Cristo e não a Mamon.
Um abraço em Cristo
Pr. Miss. Edmundo Mendes Silva
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