quarta-feira, 22 de junho de 2016

OS DESAFIOS DE PROMOVER A OBRA MISSIONÁRIA EM MEIO ÀS ARIDEZES INTERNAS

Onde estão os maiores desafios missionários da igreja? No contexto externo ou interno? Quais são os maiores entraves à obra missionária hoje? George Peters diz que “O mundo está muito mais preparado para receber o evangelho do que os cristãos para o propagar”.
Vejamos os desafios de promover a obra missionária em meio às aridezes internas:

I -ARIDEZ INTERNA NO CONTEXTO MISSIONÁRIO:
A obra missionária já desde o seu nascedouro enfrentou muitos desafios internos, fruto da dureza de coração do homem, do sentimentalismo, da miopia espiritual que, à semelhança de uma terra árida, precisa ser trabalhada para produzir fruto. Analisemos o breve relato do nascimento histórico da igreja e a aridez interna a ele atrelada: “Em Jerusalém… Em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).
Nos caps. 1-7, a igreja-mãe nasce e faz missão em Jerusalém sob a liderança de Pedro. Devido à perseguição, em At 8.3 a igreja começa a expandir-se para Samaria e Etiópia, Através de Filipe e gentios se convertem ao evangelho. Já no cap. 10 o Evangelho chega a Cesareia através de Pedro. A partir da igreja de Antioquia no cap. 13 a igreja se espalha com muito ímpeto no mundo não judeu sob a liderança de Paulo.
O êxodo de Jerusalém só aconteceu por conta da perseguição. Pedro em Cesareia necessitou de uma revelação divina para vencer seu etnocentrismo e admitir que Deus não faz acepção de pessoas.
Os dispersos avançaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus.
Estas informações nos levam a identificar alguns desafios internos da igreja no seu nascedouro:

1.1  BAIRRISMO ESPIRITUAL 
Estavam presos a Jerusalém e ignoravam as necessidades evangelísticas de fora, bem como a ordem de Jesus de alcançarem os confins da terra a partir de Jerusalém, e isto movidos por vários motivos nocivos à visão missionária:
a) Etnocentrismo religioso – Por serem o povo da aliança os judeus se Jactavam (Rm 3.9,27), a ponto de não quererem nem comer com os pecadores (Lc 15.1) e assim tinham muita dificuldade de crê e aceitar que os gentios estavam inclusos na escolha de Deus para a Salvação e, principalmente, admitirem que agora encabeçavam a aliança divina vigente (Rm 11.11).
b) Exclusivismo étnico-religioso – Segundo o apóstolo Paulo Deus ofereceu o plano da salvação primeiro aos judeus (At 13.46), no entanto percebe-se que os apóstolos de Cristo, como eram judeus, continuaram atrelados ao seu pensamento de exclusivismo étnico-religioso em vez exclusivismo missionário, continuaram a ignorar sua missão para com o mundo gentílico e por um bom tempo tentaram converter apenas judeus ao cristianismo.

1.2 O BAIRRISMO RELIGIOSO HOJE
O bairrismo religioso com suas motivações peculiares à sua cultura e época, termina por limitar o avanço da obra missionária, trazendo problemas como:
a) Falta de percepção do todo, o nosso campo torna-se nosso mundo e alcançar nossa área de atuação traz-nos sensação de que cumprimos nossa missão mesmo com mundo a nossa volta por alcançar.
b) A nossa forma de governo eclesiástico (congregacional) apesar de muito eficiente favorece este tipo de sentimento mais do que a episcopal.
c) Egocentrismo religioso. Trabalhar denodadamente pelo desenvolvimento do nosso campo é necessário e legítimo, Mas trabalhar visando apenas nossa autopromoção pessoal, os nossos próprios interesses, ou apenas os interesses do nosso campo são ilegítimos e nocivos à visão missionária apresentada por Cristo (At 1.8)

1.3  APATIA EVANGELÍSTICA
A igreja local não pode perder de vista a evangelização de sua área de atuação, pois tudo começa em Jerusalém, e a efervescência evangelística da igreja local é a fonte motivadora da obra missionária. Uma igreja que não tem um bom trabalho evangelístico dificilmente terá candidatos a campo missionário, terá muita dificuldade de levantar recursos para missões e terá muita dificuldade de assimilar os desafios e oportunidades da Obra. O declínio ou ausência do sentimento missionário numa igreja reflete indiscutivelmente sua apatia evangelística (cf 13.1-3).
Somente é evangélica a igreja que evangeliza. “Ganhar almas para Cristo é meu negócio” (Dawith L. Moody). Uma igreja que deixa de evangelizar, aos poucos também deixará de ser igreja. “De vinte estratégias evangelísticas uma funciona, de vinte pessoas visitadas uma aceita ser evangelizada, de vinte pessoas evangelizadas uma aceita a Cristo”. (Pastor Ronaldo Lidorio, médias de experiências evangelísticas em seu ministério).
É preciso desenvolver múltiplas estratégias de evangelismo com o intuito de alcançarmos o pecador.

1.4 FALTA DE COMUNHÃO
“Para que todos sejam um, como tu, ó pai os és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. (Jo 17.21)
Uma das táticas de Satanás para minar nossa força e crescimento é roubar nossa comunhão.
Quantos problemas de ordem interna não surgem neste particular entre secretaria de missões e missionários, entre membros da equipe de missionários no campo, entre líder e liderado, entre o pastor da igreja e a obra missionária.
Uma das coisas a se preservar no exercício da obra missionaria é a comunhão.

II – COMO PROMOVER A OBRA MISSIONÁRIA EM MEIO AOS DESAFIOS INTERNOS?
a)     ORANDO
A obra de Deus sempre enfrentou desafios externos e internos. Quando Paulo, por exemplo, prevenia a Igreja em Éfeso quanto aos perigos que a rondariam após a sua partida disse: “porque sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós… e que, dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas...” (At 20.29,30). Então, em meio a este cenário a Oração se torna uma arma muito poderosa, pois muitas de nossas batalhas temos que travar em secreto em oração outras, porém, em grupo de pessoas íntimas
e outras vezes com toda a congregação ou com muitas igrejas unidas em torno dos mesmos objetivos, como é o caso da Mobilização missionaria do Maranhão e a intercessão mundial.
Quando a igreja sente dores de parto em oração é que nascem as almas, “Quando o homem trabalha, o homem trabalha; quando o homem ora Deus trabalha”. (Hansvon Staden).
“Pede-me e eu te darei as nações como herança, e os confins da terra como tua propriedade…” (Sl 2.8). A profecia é para Cristo, mas lembremo-nos, somos o corpo de Cristo na terra

b)     DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA MISSIONÁRIA
Um dos maiores desafios internos no contexto missionário é a falta de visão ou uma visão distorcida. É ai que entra a importância de trabalharmos a consciência missionária da liderança e da igreja em geral e isso redundará em bons resultados.

c)     FORTALECIMENTO DE NOSSAS INSTITUIÇÕES
Chegamos ao centenário imersos em uma crise de liderança sem precedentes em nossa história e as dificuldades de promovermos uma transição bem conduzida têm gerado um descrédito em nossas instituições (convenções, secretarias e departamentos) e fortalecido o nosso individualismo, fazendo com que sejamos a maior igreja evangélica do país, no entanto com pouca representatividade nacional e mundial.

Somos uma igreja forte no contexto local e em alguns casos regional e fraca de representatividade nacional e mundial.
Precisamos orar a Deus por uma liderança que consiga apascentar a igreja neste país e fortalecer sua unidade e identidade e desenvolver um projeto de evangelização de impacto nacional e um melhor direcionamento das ações missionárias da igreja Assembleia de Deus brasileira para o mundo.

CONCLUSÃO
Precisamos regar com lagrimas os áridos solos de nossos corações, para sermos mais sensíveis ao Ide de Cristo e ao clamor do mundo, pensarmos mais no Reino de Deus do que em nós mesmos, buscarmos mais a salvação dos perdidos e a glória de Deus do que nossa própria glória. Amem!

Um Abração a todos em Cristo Jesus
Pr. Miss. Capelão

Edmundo Mendes Silva

quinta-feira, 31 de março de 2016

AS HERESIAS FAVORITAS DOS EVANGÉLICOS

Por Marcelo Berti

Não é novidade que a liderança da igreja evangélica contemporânea tem falhado no ensino e instrução de suas igrejas. Enquanto o apelo pelo funcional e prático transformou os cultos um modo de moeda de troca pelo benefício da popularidade, o moralismo e o legalismo se tornaram a referência da espiritualidade da igreja. Pouco tempo se investe em questões de natureza ontológica, e muito tempo em questões práticas. Não é à toa que tal inversão de valores [em comparação com a igreja dos primeiros séculos] tem criado um rebanho imaturo e despreparado para defender sua própria fé.

Isso fica evidente na pesquisa publicada pelo LifeWay Researchintitulada “Americans believe in heaven, hell and a lit bit of heresy” (Americanos acreditam no céu, inferno e em algumas heresias). De acordo com Stephen Nichols, o diretor acadêmico do Ligonier Ministries, a pesquisa “revela um significante nível de confusão teológica”Ed Stetzer afirma que o cristão norte-americano “gosta de acreditar em um tipo de Deus quasi-cristão com doutrinas de padaria. No entanto, quando perguntado sobre doutrinas mais complexas, coisas que a igreja considerou e continua a considerar como ortodoxia, os números mudam”.

SOBRE A TRINDADE
É assustador como o conceito da Trindade não é compreendido pelos cristãos de modo geral. Aquela doutrina considerada parte integral das mais importantes doutrinas do cristianismo parece não ter clara definição no credo do cristão comum norte-americano. De acordo com a pesquisa cerca de 70% dos americanos acreditam que existe apenas um Deus que subsiste em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Ao mesmo tempo, 58% dos evangélicos entendem o Espírito Santo como uma força e não como uma pessoa, enquanto 17% acreditam que Jesus Cristo é primeira criatura. Entre os Católicos o número é ainda mais assustador: 75% acreditam que o ES é uma força, não uma pessoa e 28% entendem a Cristo como a primeira criatura criada por Deus. Para piorar, 15% dos cristãos acredita o ES é menos divino que o Pai, enquanto 33% acreditam que o Pai e mais divino que o Filho. A confusão teológica aqui é clara, pois é evidente que a definição adotada é negada pelas definições que assumem. Ao que parece, boa parte dos cristãos tem dificuldade para entender o conceito.

SOBRE A BÍBLIA
De acordo com a mesma pesquisa, apenas 48% dos americanos acreditam que a Bíblia é de fato a Palavra de Deus. Entre os evangélicos, enquanto 18% entendem que a Bíblia tem sua utilidade, mas que ela não é literalmente verdadeira, apenas 76% afirmam que a Bíblia é 100% verdadeira em tudo o que ensina. Entre os protestantes não evangélicos, 50% deles afirmam que a Bíblia, apesar de sua utilidade, não é literalmente verdadeira e apenas 36% acreditam que a Bíblia é de fato verdadeira. Mas, a pior parte não é a latente confusão teológica em relação a Bíblia, mas a visão que os americanos tem em relação a outros livros religiosos. Por exemplo, 10% dos americanos afirmam que o Livro de Mórmon é inspirado por Deus enquanto 36% não tem certeza do mesmo.

SOBRE A SALVAÇÃO
No que se refere à salvação, 68% dos evangélicos afirmam que a humanidade primeiro busca a Deus, que então responde com Sua graça; 56% dos evangélicos afirmam que a salvação é realizada em cooperação com Deus; 67% consideram que a humanidade está habilitada a voltar-se a Deus por iniciativa própria. Por outro lado, apenas 18% acreditam que a salvação é meritória, baseado em atos de bondade realizados no passado ou presente. Um dado interessante é que a visão da auto-suficiência para salvação também afeta a visão que o cristão tem da igreja e da necessidade de outras pessoas para a saúde de sua vida espiritual. Cerca de 52% afirmam que a adoração solitária tem o mesmo papel que a adoração comunitária, e por isso não veem necessidade estarem conectados a uma igreja. 56% acreditam que o sermão pastoral não tem qualquer autoridade sobre suas vidas e 45% acreditam que a Bíblia foi escrita para eles como indivíduos e que como tal, eles tem o direito de interpretar as escrituras como quiserem.

RESUMO DA ÓPERA
Caso ainda não tenha ficado evidente, no evangelicalismo norte-americano sobrevivem três diferentes heresias históricas:
Arianismo: A visão trinitaria apresentada pelos evangélicos americanos em muito se assemelha com a doutrina heterodoxa de Ário, o presbítero do quarto século que ganhou notoriedade ao ensinar que Cristo era a primeira criatura criada por Deus. Dificilmente os cristãos dos nossos dias conhecem esse homem com detalhes suficientes para defender suas idéias baseadas no seu ensino. Talvez parte da confusão tenha sido semeada pelo investimento ‘missionário’ das igrejas unitaristas e movimentos neo-arianos dos nossos dias. Entretanto, o que é evidente é que a cultura de consumismo religioso tem extirpado da igreja a necessidade do ensino aprofundado das escrituras e criado um cristianismo aquém das Escrituras.

Humanismo: A visão elevado do homem e de sua auto-suficiencia tem influenciado o pensamento cristão de tal modo que a salvação tem sido vista como meritória. Em uma cultura na qual o indivíduo é senhor do seu destino (acadêmico, profissional), o cristão assume que seu relacionamento com Deus é realizado do mesmo modo. Entre os americanos a idéia de ‘eu faço’ ou ‘eu posso’ faz parte de sua cultura, e infelizmente tal ideologia parece ter também invadido a mentalidade dos cristãos. R.C. Sproul afirma que essa pesquisa aponta “o que fica claro nessa pesquisa é a penetrante influência do humanismo.” Tal humanismo não afeta apenas a percepção da salvação do indivíduo, mas também da necessidade da comunidade para uma vida cristã saudável. O humanismo tem gerado nas igrejas homens solitários que pensam viver o evangelho isolados do corpo de Cristo.

Pelagianismo: A visão da auto-suficiência humana tem levado cristãos a afirmarem que a humanidade é habilitada para voltar-se a Deus sem que qualquer agência divina seja necessária. Aos poucos, o evangelicalismo norte-americano volta-se para a doutrina de Pelágio, o monge Britânico que defendeu que o pecado de Adão afetou apenas a Adão e não sua posteridade, e que, portanto, a humanidade não é inábil para adquirir sua própria salvação. Essa mesma heresia que foi tão combatida por Agostinho, encontrou nos ensinos de Pedro Abelardo e Pedro Lombardo seu caminho de volta para a igreja Católica Romana. Hoje tal doutrina volta a ameaçar a sã doutrina através dos pregadores da prosperidade e pelo humanismo latente da cultura norte-americana.

UM APELO AOS PASTORES
Ninguém pode garantir que os números da igreja norte-americana representam a realidade da igreja brasileira, mas meu palpite é que os números não serão muito diferentes dos que vimos acima. Apesar do humanismo impactar a igreja brasileira de outros modos, as mesmas três doutrinas estão vivas e muito bem na igreja brasileira.
Por isso, gostaria de conclamar nossos pastores para que observem a realidade da igreja dos nossos dias e ouçam o conselho de Paulo para cuidar da doutrina que lhes foi confiada. Não acreditem em fórmulas de sucesso manufaturadas pelo humanismo, nem se rendam a popularidade. Evitem tanto quanto puderem a superficialidade bíblica e teológica. Não acreditem na mentira do pragmatismo de que as escrituras não funcionam. Não abandonem o ensino das escrituras, o discipulado dos cristãos e a mentoria dos líderes da igreja, custe o que custar.
Afinal, nós precisamos voltar ao evangelho. Nós precisamos ensinar em nossas igrejas a mensagem dos apóstolos, aquela mensagem que levou os à morte e não ao ‘sucesso’. Aquela mensagem que era considerada loucura tanto por gregos como pelos judeus, mas que ainda assim os apóstolos deram suas vidas para levar às igrejas. Nós precisamos aprender a perseverar na doutrina dos apóstolos, como a comunidade primitiva fazia.
Enquanto o show for mais importante que a adoração, a individualidade mais importante que a comunidade, a superficialidade mais importante que o ensino das escrituras, a multiplicação de participantes mais importante que o discipulado de cristãos, a heresia será apenas mais uma convidada no show de horrores do cristianismo contemporâneo.



Um abraço em Cristo.
Pr. Capelão Edmundo Mendes Silva.