segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DIFICULDADES NO EVANGELISMO MISSIONÁRIO

Um irmã me perguntou quais as dificuldades que temos no evangelismo aqui em Bolívia, Paraguai e outros países que temos observado. Bem, desejo responder esta pergunta sendo o mais breve possível. (vai ser difícil…rs…rs..)

DOCUMENTAÇÕES E RESTRIÇÕES DO GOVERNO
O evangelho tem sido restringido em Bolívia pelo governo.  Hoje para se abrir uma igreja um missionário poderá gastar mais de R$ 15.000,00 Reais e ainda assim poderá não conseguir a documentação da igreja. Geralmente os novos missionários buscam filiar-se a igrejas já existentes para que possam obter o visto de permanência de missionário e direito de abrir uma igreja. Em nosso caso, nós conseguimos o visto comum e recentemente conseguimos a chamada PERMANÊNCIA que é um visto renovado a cada cinco anos. Este é o caso da Bolívia, pois a questão de documentação para igreja e missionário cada país tem sua exigência.
No Equador um estrangeiro não pode abrir uma igreja ou participar de qualquer diretiva de associações ou fundação. Então sempre depende de um nacional para fazer este trabalho. Se o missionário já tem um contato fica até mais “fácil” – E coloco este fácil entre aspas,  porque também é cobrado altos valores por documentações de igrejas, sem falar da burocracia.  Atualmente não sei como anda a legislação paraguaia, mas até as ultimas informações que tive também é muito caro, mas pode-se fazer aos pouco; tem que ter muita paciência com a burocracia. Certo é que, saindo do Brasil esqueça como funciona as coisas dentro do território brasileiro e busque informações do campo. Saiba que cada país tem suas exigências e cada país tem suas leis. Quando a isso, torna-se uma barreira para muitos, ou pela falta de preparação ou por não ter o recurso.
Voltando a Bolívia, o Governo Boliviano tem restringido a atuação das igrejas e serviços missionários entre os povos indígenas da região oriental  – região de fronteira com Brasil e na região andina. Nessas regiões há forte controle e, muitas vezes, retaliações. Um certo missionário americano usou a estratégia de abri celeiros nos povoados próximo ao lago Titicaca, onde o povo após plantar guardaria seus grãos nesses seleiros, mas tudo foi com o objetivo de realizar reuniões com o povo da região. Infelizmente foi descoberto e começou a perseguição. Primeiro exigiram que tivessem igrejas e suas documentações; eles fizeram. Depois exigiram que comprassem um terreno dentro do perímetro urbano da cidade de La Paz e construí-se um templo sede e escritório; os irmãos lutaram e fizeram. Em Novembro de 2011 encontrei o missionário que lidera este grupo e me disse que segui as mil e uma exigências do governo. O alvo é fazer cansar e desistir.
Temos encontrado um choque muito grande por parte dos irmãos com boas intenções, mas sem informação. Tem gente que tenta passar na fronteira usando a CNH, sendo que para os países do Mercosul é CONCEDIDO o visto de ingresso com a identidade, porque documento mesmo é passaporte. Isso mostra que muitos saem do Brasil achando que vão a um país vizinho pensando que estão passando a divisa do Estado do Espirito Santo com Bahia. Isso não é assim. Nosso Brasil está aberto aos brasileiros, mesmo que também as leis brasileiras restringem aos imigrantes; e quando falamos de missionário mais ainda. Então, prepare-se para as restrições  O alvo do Governo é vetar a proliferação de novas igrejas.
Em nosso caso optamos por trabalhar com Bases de Apoio. O trabalho é voltado ao evangelismo e as Bases e Apoio pode ser qualquer “teto” onde o missionário possa morar, receber outros missionários, guardar os materiais e fazer as reuniões. O objetivo central é o evangelismo. Atualmente não estamos visando formalizar o trabalho, pois realmente as condições financeiras não permite e até mesmo as pressões governamentais seriam problemas. É interessante um trabalho formal, pois abre porta para muitas oportunidades, mas igrejas formalizadas tem muitas, assim como pastores e missionários gastando milhares de dólares para manter as documentações enquanto a maior necessidade da nação continua sendo a mesmo  -  A FALTA DA PALAVRA DE DEUS!

BARREIRAS CULTURAIS
Estou usando situações dos países que conheço e tenho contato. Mas cada país tem sua dificuldade em relação a cultura, documentação e etc. Mesmo que existem pontos iguais quando se trata de barreiras para se pregar o evangelho.
Bem, a questão cultural também impõe barreira. Existem comidas bem diferentes do nosso feijão com arroz e mesmo que você goste muito do seu feijão, arroz e bife deve-se compreender que falar mal da comida do lugar onde você está é falar mal da cultura do povo. Você não é obrigado a gostar de nada, mas aprenda uma coisa: Não fale mal da comida de ninguém.  Mas estamos falando de evangelismo e que relação há entre comida e evangelismo? Pode ser que não signifique nada para você, mas conheço casos de missionários serem expulsos de uma comunidade por fazerem “comentários” sobre o modo do povo preparar seus alimentos.  Infelizmente muitos dos meus compatriotas brasileiros têm se mostrados inaptos neste ponto fechando as portas para a pregação do evangelho por serem expertos em exaltar a culinária brasileira e fazer comparações e são ignorantes em relação a  ganhar o coração do povo. Este grande problema tenho encontrado em Bolívia, Paraguai e escutado situações similares de amigos missionários na África.
Devemos considerar que o Brasil mesmo tempo culturas e raças diferentes; índios, negros, brancos, todos juntos, existe uma tolerância entre os povos. Em Bolívia o racismo é forte e cada povo exalta sua cultura. Bolívia tem a Constituição traduzida em cincos idiomas: Espanhol, quéchua, Aimara, guarayo e guarani. Estas são as principais etnias.  Também existe mais de 30 etnias diferentes e cada povo, de forma natural, exalta sua língua, sua comida e etc. Cada povo busca seu interesse e para a sobrevivência deve-se manter a unidade. E para que exista esta unidade deve-se preservar a cultura do seu povo. Então, o que para nós não significa nada para outros povos é tudo. Você tocar nestes pontos é fechar as portas para não mais ser aceito.  Simples, não acha? No Paraguai por várias vezes recebemos alunos de escolas de missões de várias partes do Brasil. Estavam ali para o chamado Transcultural, mas quase todos tropeçavam na mesma pedra da diferença cultural. Você imagina o missionário desfazendo da língua guarani no Paraguai? Bem, eu tive o desprazer de ver muitas vezes.
Na região andina existe muito o conceito que o Cristianismo foi apenas uma arma usada por espanhóis para dominar o povo. Aqui em Bolívia o governo tem incentivado o povo a voltar às origens indígenas andina de adoração, pois o cristianismo, seja o católico ou protestante, são apenas armas de domínio. Isso gera barreira de aceitação e perseguição. Então, pregar Cristo para muita gente já inflamada por esta idéia é ferir a cultura deles. Não faz muito tempo dois jovens que nós ajudávamos enviando materiais quase foram queimados em uma provincia porque estavam distribuindo folhetos falando de Jesus e pregando na praça. Graças a Deus que o Senhor interviu naquela situação e as autoridades locais retiraram os jovens do meio da turba. Conheço situações de pessoas que foram expulsos de suas comunidades perdendo tudo, terras, casas…tudo mesmo porque passaram a ser Cristãos. Também na região oriental de Bolívia a Igreja Católica infundiu por muito tempo perseguição. Um pastor que hoje prega nas ruas e recebe dos nossos materiais disse que ele mesmo quando jovem chegou de ajudar a perseguir evangelicos expulsando-os da comunidade. Ainda hoje tais perseguições ocorrem….
Vou terminar este ponto sobre a cultura falando da experiencia de um missionário que conheço bem. No Equador e Peru existem povos que quando você chega na comunidade eles preparam as comidas típicas. Para esse missionário serviram um coró (minhoca) que é retirado do côco. Deve-se comer o coró vivo (…rs…). Todos da comunidade comem aquele bicho. Além do coró também é preparado uma bebida. Eles mastigam a mandioca ( ou aipim) e depois vão cuspindo aquele bagaço dentro de um tambor. Depois acrescentam agua e deixam uns tres dias curtindo…. quando o visitante chega todos devem sentar e beber a bebida típica e comer o tal coró. Se o missionário não participa o líder da comunidade o convida a se retirar da comunidade. Tal experiencia eu já havia lido, também escutei por um pastor que hoje está no Paraguai e novamente escutei a mesma experiencia pelo missionário Fabricio Borges, pastor da Assembléia de Deus de São Paulo e que atualmente está conosco aqui em minha casa. Também o missionário Ebenezer e Rebeca nos contaram experiencias dessa natureza. (Caso queira maiores informações é só buscar os contatos dos irmãos entre os meus amigos do Facebook).
Volta a dizer... Para o brasileiro a questão de comida, vestimento e etc não significa muita coisa, mas em outros lugares você poderá ser expulso ou até ter problemas mais sérios por não saber portar-se. Antes de ir para uma determinada região busque saber os costumes, o que o povo valoriza… faça uma pesquisa e o irmão não terá problemas.

MAU EXEMPLO DE OUTROS MISSIONÁRIOS
Perguntei sobre as dificuldades na pregação do evangelho no Equador para o pastor Fabricio Borges e existem pontos similares a Bolívia, Perú e Paraguai. Muitos brasileiros tem vindo a estes países e dado escândalos. Igrejas usando a tão conhecida Teologia da Prosperidade e deixando o rastro da vergonha. Quando um missionário brasileiro chega com muita vontade de trabalhar encontra o preconceito instalado por maus obreiros que “já fizeram o favor de estragar tudo”. E você diz: Mas o que isso pode impedir? Bem, quando você abre sua boca para falar de Jesus às pessoas não querem te ouvir porque pensam que você está vindo para “Vender o caminho da Salvação” pelo simples fato de seu espanhol vir carregado com o tom do português. Infelizmente isso é uma barreira e vergonha. O missionário Ebenezer e Rebeca trabalharam na Belgica e em muitos lugares as pessoas simplesmente diziam: Não queremos brasileiros! Você sabe o que é isso? Isso é o rastro do mau exemplo.

BARREIRA FINANCEIRA E PRESSÃO DE IGREJAS OPRESSORAS
Poderia seguir falando de muitas outras barreiras, mas a barreira da falta do apoio e opressão por parte das igrejas que enviam são pontos comuns em quase todos os países. Já encontrei missionário ganhando 400 reais para manter família e fazer a Obra. Você sabia que existe igrejas que não permite o missionário ter Orkut, Facebook, Blog, e-mail e nem ter uma conta bancária? Você acha ridículo? Pois é isso mesmo que acontece com muitos. Um pai de família ganha 400 reais e não pode dizer nada pra ninguém quando chega a dificuldade. Eu poderia dizer que isso é trabalho escravo. Como alguém pode fazer a Obra do Senhor em tal situação? Um amigo missionário foi enviado ao campo por uma grande igreja do Brasil. Diante da reunião na Secretaria de Missões prometeu pagar o aluguel casa, salão e mais 250 dólares por mês. Para o jovem missionário essa eram boas condições para desenvolver o trabalho. Mas quando chegaram no campo o mesmo pastor que diante da secretaria fez todas as promessas disse que o missionário deveria saber o que é viver pela fé. Havia mês que enviava 30 dólares, no outro enviava 100 e assim por diante. Esse missionário muitas noites foi dormir sem nada para comer.
Amados, em missões existem dois pontos de conflito: A fonte do recurso (geralmente na igreja) e o campo. Você já trabalhou em uma Secretaria de Missões, ou agencia missionário que não trabalha com seriedade? Ou você já esteve no campo missionário dependendo de tais secretarias? Então você sabe bem o que estou falando.
Conheço um missionário que saiu do Ceará para o Paraguai. Tinha que manter 4 filhos e a secretaria disse que ajudaria com R$ 250 reais. A viagem foi paga com o que conseguiu vender de seus pertences. Quando chegou no Paraguai também chegou a realidade. A família cozinhava arroz  em uma panela e contava as moedas para comprar um espetinho com um pouco de farinha para cada um. Um dia, o missionário brigou com um dos filhos porque não achou o tal espetinho de R$ 0,5 centavos e não deu para comprar pra todo mundo. Esse filho foi para escola sem comer. Esse pastor ligou para secretaria porque havia três meses que não enviava ( imagina!!!). E o secretario o xingou por telefone por incomodar: “Você não tem chamada não!!! Você não tem fé, missionário??” Posso estender esta história e contar com muitos mais detalhes, porque este pastor é meu pai e fui eu que tive que ir para escola sem comer por não achar o espetinho de R$ 0,5 centavos. Tenho motivos de sobre que querer ser qualquer coisa no mundo, menos um missionário. Bem, por muito tempo alimentei este pensamento e só mudei quando o Senhor trabalhou em meu coração. E tudo é culpa de quem?
Muitas igrejas oprimem seus missionários enviando recurso insignificativos e aproveitando-se da imagem Missionário no Campo para arrecadar muito dinheiro. Em certa ocasião meu pai passava grande necessidade financeira quando justamente nesta época ficou sabendo que uma determinada igreja que havia levantado uns 5000 reais para nos ajudar no serviço missionário. Você quer mesmo saber quanto chegou à conta do meu pai? Em outra ocasião uma irmã veio todo feliz mostrar um carnê de ajuda missionária de sua igreja que supostamente ajudava o ministério do meu pai no Paraguai. Amados, como neto, filho e agora missionário posso até mesmo escrever um livro dessas histórias de terror. Mas não estou colocando aqui por revolta, porque se fosse um revoltado nem estaria em um campo missionário. Mas coloco aqui algumas historias para que você fique sabendo que existe e tudo isso gera barreira para o avanço da Obra Missionária.
E tem mais: Missionários que não podem repassar relatório, mas existe um homem escolhido para fazer tal trabalho….claro, distorcendo a veracidade dos relatórios. Como já disse, missionários que não podem ter e-mail, Orkut, Facebook e nem conta bancária. Caso queira ir ao campo enviado pelo tal igreja opressora deve fechar tudo. Se quando no campo reabrir será feita uma exclusão administrativa. Em minha casa já tive a visita de vários homens de Deus que deixaram lágrimas que certamente Deus cobrará de muita gente.
Meu irmão, como homens e mulheres podem fazer algo no campo diante de tais situações? Se conversamos com missionários de várias igrejas diferentes o denominador comum é: A MAIOR BARREIRA VEM DO NOSSO BRASIL!!!
A opressão é pelo extremado controle do recurso financeiro; e o extremado controle por sacerdotes ditadores gera a miséria no campo missionário. Você sabia que aqui em Bolívia tem muitos missionários que conseguem boa parte do seu tempo vendendo Avon, salgadinho, roupa e etc. para incrementar seu recurso? E são homens e mulheres que deixaram bons empregos no Brasil, que ganhavam super bem, mas que continuam aqui por amor a Obra? Ah, não sabia???  Claro, isso ninguém fala em culto de missões. Afinal, todo mundo quer ver fotos do evangelismo, fotos e vídeos do povo, quer ouvir sobre a diferença cultural e etc.
O amor pelo crescimento do nome da denominação cresce, enquanto o amor pelo Reino de Deus diminui. Quando o amor diminui, também as ofertas enviadas aos missionários vão diminuir. Quando o missionário não tem recurso ele não pode fazer muita coisa. Você só conhecerá os pontos de conflito quando você estiver e pertencer a um deles.
Quantos são os crentes que querem ajudar um trabalho missionário? Uma igreja paga 5000 Reais a um cantor para fazer um show em uma festa, mas tem a mesma disposição de ofertar os R$ 5000 ao campo missionário? Ou quanto um crente gasta com trivialidades, poderia ser investido em missões? Quando eu tinha meus 17 para 18 anos tomei a decisão de não gastar com coca cola e hamburguês e investir em missões, mas infelizmente são poucos a ofertar. Nós temos o PROGRAMA DE APOIO EVANGELÍSTICO que dá oportunidade e qualquer um de ofertar no trabalho missionário. Estipulamos o valor mínimo de R$ 2,00. Tudo é voluntário, nada obrigado. Mas, você não quer me perguntar quantas participam no projeto? Eu prefiro não responder aqui e continuo pedindo vossa oração.
Quero finalizar dizendo que são muitas as oposições, então, ore pelo trabalho missionário.

Se o irmão(ã)  conhece algum missionário eu o animo-o que ajude financeiramente.  Seja um colaborador voluntário. Além de enviar.
será que isto só acontece com ele?????????


Obs.: Publicado pela primeira vez no dia 27 de agosto de 2012 – Santa Cruz de la Sierra, Bolívia


Que Deus em Cristo tenha misericórdia do Campo Missionário
Pr. Capelão Edmundo Mendes Silva

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