Um irmã me
perguntou quais as dificuldades que temos no evangelismo aqui em Bolívia, Paraguai
e outros países que temos observado. Bem, desejo responder esta pergunta sendo
o mais breve possível. (vai ser difícil…rs…rs..)
DOCUMENTAÇÕES
E RESTRIÇÕES DO GOVERNO
O evangelho tem sido restringido em
Bolívia pelo governo. Hoje para se abrir uma igreja um missionário poderá
gastar mais de R$ 15.000,00 Reais e ainda assim poderá não conseguir a
documentação da igreja. Geralmente os novos missionários buscam filiar-se a
igrejas já existentes para que possam obter o visto de permanência de
missionário e direito de abrir uma igreja. Em nosso caso, nós conseguimos o
visto comum e recentemente conseguimos a chamada PERMANÊNCIA que é um visto
renovado a cada cinco anos. Este é o caso da Bolívia, pois a questão de
documentação para igreja e missionário cada país tem sua exigência.
No Equador um estrangeiro não
pode abrir uma igreja ou participar de qualquer diretiva de associações ou
fundação. Então sempre depende de um nacional para fazer este trabalho. Se o
missionário já tem um contato fica até mais “fácil” – E coloco este fácil
entre aspas, porque também é cobrado altos valores por documentações
de igrejas, sem falar da burocracia. Atualmente não sei como anda a
legislação paraguaia, mas até as ultimas informações que tive também
é muito caro, mas pode-se fazer aos pouco; tem que ter muita paciência com
a burocracia. Certo é que, saindo do Brasil esqueça como funciona as
coisas dentro do território brasileiro e busque informações do campo. Saiba que
cada país tem suas exigências e cada país tem suas leis. Quando a isso,
torna-se uma barreira para muitos, ou pela falta de preparação ou por não ter o
recurso.
Voltando a Bolívia, o Governo Boliviano
tem restringido a atuação das igrejas e serviços missionários entre os povos
indígenas da região oriental – região de fronteira com Brasil e na região
andina. Nessas regiões há forte controle e, muitas vezes, retaliações. Um certo
missionário americano usou a estratégia de abri celeiros nos povoados próximo
ao lago Titicaca, onde o povo após plantar guardaria seus grãos nesses
seleiros, mas tudo foi com o objetivo de realizar reuniões com o povo da
região. Infelizmente foi descoberto e começou a perseguição. Primeiro exigiram
que tivessem igrejas e suas documentações; eles fizeram. Depois exigiram que
comprassem um terreno dentro do perímetro urbano da cidade de La Paz e
construí-se um templo sede e escritório; os irmãos lutaram e fizeram. Em
Novembro de 2011 encontrei o missionário que lidera este grupo e me disse que
segui as mil e uma exigências do governo. O alvo é fazer cansar e desistir.
Temos encontrado um choque muito grande
por parte dos irmãos com boas intenções, mas sem informação. Tem gente que
tenta passar na fronteira usando a CNH, sendo que para os países do Mercosul
é CONCEDIDO o visto de ingresso com a identidade, porque documento mesmo
é passaporte. Isso mostra que muitos saem do Brasil achando que vão a um país
vizinho pensando que estão passando a divisa do Estado do Espirito Santo com
Bahia. Isso não é assim. Nosso Brasil está aberto aos brasileiros, mesmo que
também as leis brasileiras restringem aos imigrantes; e quando falamos de
missionário mais ainda. Então, prepare-se para as restrições O
alvo do Governo é vetar a proliferação de novas igrejas.
Em nosso caso optamos por trabalhar com
Bases de Apoio. O trabalho é voltado ao evangelismo e as Bases e Apoio pode ser
qualquer “teto” onde o missionário possa morar, receber outros missionários,
guardar os materiais e fazer as reuniões. O objetivo central é o evangelismo.
Atualmente não estamos visando formalizar o trabalho, pois realmente as
condições financeiras não permite e até mesmo as pressões governamentais seriam
problemas. É interessante um trabalho formal, pois abre porta para muitas
oportunidades, mas igrejas formalizadas tem muitas, assim como pastores e
missionários gastando milhares de dólares para manter as documentações enquanto
a maior necessidade da nação continua sendo a mesmo - A FALTA DA
PALAVRA DE DEUS!
BARREIRAS
CULTURAIS
Estou usando situações dos países que
conheço e tenho contato. Mas cada país tem sua dificuldade em relação a
cultura, documentação e etc. Mesmo que existem pontos iguais quando se trata de
barreiras para se pregar o evangelho.
Bem, a questão cultural também
impõe barreira. Existem comidas bem diferentes do nosso feijão com arroz e
mesmo que você goste muito do seu feijão, arroz e bife deve-se compreender que
falar mal da comida do lugar onde você está é falar mal da cultura do povo.
Você não é obrigado a gostar de nada, mas aprenda uma coisa: Não fale mal da
comida de ninguém. Mas estamos falando de evangelismo e que relação há
entre comida e evangelismo? Pode ser que não signifique nada para você, mas
conheço casos de missionários serem expulsos de uma comunidade por fazerem
“comentários” sobre o modo do povo preparar seus alimentos. Infelizmente
muitos dos meus compatriotas brasileiros têm se mostrados inaptos neste ponto
fechando as portas para a pregação do evangelho por serem expertos em exaltar a
culinária brasileira e fazer comparações e são ignorantes em relação a
ganhar o coração do povo. Este grande problema tenho encontrado em
Bolívia, Paraguai e escutado situações similares de amigos missionários na
África.
Devemos considerar que o Brasil mesmo
tempo culturas e raças diferentes; índios, negros, brancos, todos juntos,
existe uma tolerância entre os povos. Em Bolívia o racismo é forte e cada povo
exalta sua cultura. Bolívia tem a Constituição traduzida em cincos idiomas:
Espanhol, quéchua, Aimara, guarayo e guarani. Estas são as principais
etnias. Também existe mais de 30 etnias diferentes e cada povo, de forma
natural, exalta sua língua, sua comida e etc. Cada povo busca seu interesse e
para a sobrevivência deve-se manter a unidade. E para que exista esta unidade
deve-se preservar a cultura do seu povo. Então, o que para nós não significa
nada para outros povos é tudo. Você tocar nestes pontos é fechar as portas para
não mais ser aceito. Simples, não acha? No Paraguai por várias vezes
recebemos alunos de escolas de missões de várias partes do Brasil. Estavam ali
para o chamado Transcultural, mas quase todos tropeçavam na mesma pedra da
diferença cultural. Você imagina o missionário desfazendo da língua guarani no
Paraguai? Bem, eu tive o desprazer de ver muitas vezes.
Na região andina existe muito o conceito
que o Cristianismo foi apenas uma arma usada por espanhóis para dominar o povo.
Aqui em Bolívia o governo tem incentivado o povo a voltar às origens indígenas
andina de adoração, pois o cristianismo, seja o católico ou protestante, são
apenas armas de domínio. Isso gera barreira de aceitação e
perseguição. Então, pregar Cristo para muita gente já inflamada por esta
idéia é ferir a cultura deles. Não faz muito tempo dois jovens que nós
ajudávamos enviando materiais quase foram queimados em uma provincia porque
estavam distribuindo folhetos falando de Jesus e pregando na praça. Graças a
Deus que o Senhor interviu naquela situação e as autoridades locais retiraram
os jovens do meio da turba. Conheço situações de pessoas que foram expulsos de
suas comunidades perdendo tudo, terras, casas…tudo mesmo porque passaram a ser
Cristãos. Também na região oriental de Bolívia a Igreja Católica infundiu por
muito tempo perseguição. Um pastor que hoje prega nas ruas e recebe dos nossos
materiais disse que ele mesmo quando jovem chegou de ajudar a perseguir
evangelicos expulsando-os da comunidade. Ainda hoje tais perseguições ocorrem….
Vou terminar este ponto sobre a cultura
falando da experiencia de um missionário que conheço bem. No Equador e Peru
existem povos que quando você chega na comunidade eles preparam as comidas
típicas. Para esse missionário serviram um coró (minhoca) que é retirado do
côco. Deve-se comer o coró vivo (…rs…). Todos da comunidade comem aquele bicho.
Além do coró também é preparado uma bebida. Eles mastigam a mandioca ( ou aipim)
e depois vão cuspindo aquele bagaço dentro de um tambor. Depois acrescentam
agua e deixam uns tres dias curtindo…. quando o visitante chega todos devem
sentar e beber a bebida típica e comer o tal coró. Se o missionário não
participa o líder da comunidade o convida a se retirar da comunidade. Tal
experiencia eu já havia lido, também escutei por um pastor que hoje está no
Paraguai e novamente escutei a mesma experiencia pelo missionário Fabricio
Borges, pastor da Assembléia de Deus de São Paulo e que atualmente está conosco
aqui em minha casa. Também o missionário Ebenezer e Rebeca nos contaram
experiencias dessa natureza. (Caso queira maiores informações é só buscar os
contatos dos irmãos entre os meus amigos do Facebook).
Volta a dizer... Para o brasileiro a
questão de comida, vestimento e etc não significa muita coisa, mas em outros
lugares você poderá ser expulso ou até ter problemas mais sérios por não saber
portar-se. Antes de ir para uma determinada região busque saber os costumes, o
que o povo valoriza… faça uma pesquisa e o irmão não terá problemas.
MAU
EXEMPLO DE OUTROS MISSIONÁRIOS
Perguntei sobre as dificuldades na
pregação do evangelho no Equador para o pastor Fabricio Borges e
existem pontos similares a Bolívia, Perú e Paraguai. Muitos brasileiros tem
vindo a estes países e dado escândalos. Igrejas usando a tão conhecida Teologia
da Prosperidade e deixando o rastro da vergonha. Quando um missionário
brasileiro chega com muita vontade de trabalhar encontra o preconceito
instalado por maus obreiros que “já
fizeram o favor de estragar tudo”. E você diz: Mas o que isso pode impedir?
Bem, quando você abre sua boca para falar de Jesus às pessoas não querem te
ouvir porque pensam que você está vindo para “Vender o caminho da Salvação” pelo simples fato de seu espanhol
vir carregado com o tom do português. Infelizmente isso é uma barreira e
vergonha. O missionário Ebenezer e Rebeca trabalharam na Belgica e em muitos
lugares as pessoas simplesmente diziam: Não queremos brasileiros! Você sabe o
que é isso? Isso é o rastro do mau exemplo.
BARREIRA
FINANCEIRA E PRESSÃO DE IGREJAS OPRESSORAS
Poderia seguir falando de muitas outras
barreiras, mas a barreira da falta do apoio e opressão por parte das igrejas
que enviam são pontos comuns em quase todos os países. Já encontrei missionário
ganhando 400 reais para manter família e fazer a Obra. Você sabia que existe
igrejas que não permite o missionário ter Orkut, Facebook, Blog, e-mail e nem
ter uma conta bancária? Você acha ridículo? Pois é isso mesmo que acontece com
muitos. Um pai de família ganha 400 reais e não pode dizer nada pra
ninguém quando chega a dificuldade. Eu poderia dizer que isso é trabalho
escravo. Como alguém pode fazer a Obra do Senhor em tal situação? Um amigo
missionário foi enviado ao campo por uma grande igreja do Brasil. Diante da
reunião na Secretaria de Missões prometeu pagar o aluguel casa, salão
e mais 250 dólares por mês. Para o jovem missionário essa eram boas
condições para desenvolver o trabalho. Mas quando chegaram no campo o mesmo pastor
que diante da secretaria fez todas as promessas disse que o missionário deveria
saber o que é viver pela fé. Havia mês que enviava 30 dólares, no outro enviava
100 e assim por diante. Esse missionário muitas noites foi dormir sem nada para
comer.
Amados, em missões existem dois pontos
de conflito: A fonte do recurso (geralmente na igreja) e o campo. Você já
trabalhou em uma Secretaria de Missões, ou agencia missionário que não trabalha
com seriedade? Ou você já esteve no campo missionário dependendo de tais
secretarias? Então você sabe bem o que estou falando.
Conheço um missionário que saiu do Ceará
para o Paraguai. Tinha que manter 4 filhos e a secretaria disse que ajudaria
com R$ 250 reais. A viagem foi paga com o que conseguiu vender de seus pertences.
Quando chegou no Paraguai também chegou a realidade. A família cozinhava
arroz em uma panela e contava as moedas para comprar um espetinho
com um pouco de farinha para cada um. Um dia, o missionário brigou com um dos
filhos porque não achou o tal espetinho de R$ 0,5 centavos e não deu para
comprar pra todo mundo. Esse filho foi para escola sem comer. Esse pastor ligou
para secretaria porque havia três meses que não enviava ( imagina!!!). E o
secretario o xingou por telefone por incomodar: “Você não tem chamada não!!! Você não tem fé, missionário??” Posso
estender esta história e contar com muitos mais detalhes, porque este pastor é
meu pai e fui eu que tive que ir para escola sem comer por não achar o
espetinho de R$ 0,5 centavos. Tenho motivos de sobre que querer ser qualquer
coisa no mundo, menos um missionário. Bem, por muito tempo alimentei este
pensamento e só mudei quando o Senhor trabalhou em meu coração. E tudo é culpa
de quem?
Muitas igrejas oprimem seus
missionários enviando recurso insignificativos e aproveitando-se da imagem
Missionário no Campo para arrecadar muito dinheiro. Em certa
ocasião meu pai passava grande necessidade financeira quando justamente
nesta época ficou sabendo que uma determinada igreja que havia levantado
uns 5000 reais para nos ajudar no serviço missionário. Você quer mesmo saber
quanto chegou à conta do meu pai? Em outra ocasião uma irmã veio todo feliz
mostrar um carnê de ajuda missionária de sua igreja que supostamente ajudava o
ministério do meu pai no Paraguai. Amados, como neto, filho e agora missionário
posso até mesmo escrever um livro dessas histórias de terror. Mas não estou
colocando aqui por revolta, porque se fosse um revoltado nem estaria em um
campo missionário. Mas coloco aqui algumas historias para que você fique
sabendo que existe e tudo isso gera barreira para o avanço da Obra Missionária.
E tem mais: Missionários que não podem
repassar relatório, mas existe um homem escolhido para fazer tal
trabalho….claro, distorcendo a veracidade dos relatórios. Como já disse,
missionários que não podem ter e-mail, Orkut, Facebook e nem conta bancária.
Caso queira ir ao campo enviado pelo tal igreja opressora deve fechar tudo. Se
quando no campo reabrir será feita uma exclusão administrativa. Em minha casa
já tive a visita de vários homens de Deus que deixaram lágrimas que certamente
Deus cobrará de muita gente.
Meu irmão, como homens e mulheres podem
fazer algo no campo diante de tais situações? Se conversamos com missionários
de várias igrejas diferentes o denominador comum é: A MAIOR BARREIRA VEM DO NOSSO BRASIL!!!
A opressão é pelo extremado controle do
recurso financeiro; e o extremado controle por sacerdotes ditadores
gera a miséria no campo missionário. Você sabia que aqui em Bolívia tem muitos
missionários que conseguem boa parte do seu tempo vendendo Avon, salgadinho,
roupa e etc. para incrementar seu recurso? E são homens e mulheres que deixaram
bons empregos no Brasil, que ganhavam super bem, mas que continuam aqui por
amor a Obra? Ah, não sabia??? Claro, isso ninguém fala em culto de
missões. Afinal, todo mundo quer ver fotos do evangelismo, fotos e vídeos do
povo, quer ouvir sobre a diferença cultural e etc.
O amor pelo crescimento do nome da
denominação cresce, enquanto o amor pelo Reino de Deus diminui. Quando o amor
diminui, também as ofertas enviadas aos missionários vão diminuir. Quando o
missionário não tem recurso ele não pode fazer muita coisa. Você só conhecerá
os pontos de conflito quando você estiver e pertencer a um deles.
Quantos são os crentes que querem
ajudar um trabalho missionário? Uma igreja paga 5000 Reais a um cantor
para fazer um show em uma festa, mas tem a mesma disposição de ofertar os R$
5000 ao campo missionário? Ou quanto um crente gasta com trivialidades, poderia
ser investido em missões? Quando eu tinha meus 17 para 18 anos tomei a decisão
de não gastar com coca cola e hamburguês e investir em missões, mas
infelizmente são poucos a ofertar. Nós temos o PROGRAMA DE APOIO EVANGELÍSTICO
que dá oportunidade e qualquer um de ofertar no trabalho missionário.
Estipulamos o valor mínimo de R$ 2,00. Tudo é voluntário, nada obrigado. Mas,
você não quer me perguntar quantas participam no projeto? Eu prefiro não
responder aqui e continuo pedindo vossa oração.
Quero finalizar dizendo que são muitas
as oposições, então, ore pelo trabalho missionário.
Se o irmão(ã) conhece algum
missionário eu o animo-o que ajude financeiramente. Seja um colaborador
voluntário. Além de enviar.
será que isto só acontece com ele?????????
Obs.: Publicado pela primeira vez no dia
27 de agosto de 2012 – Santa Cruz de la Sierra, Bolívia
Que Deus em Cristo tenha misericórdia do Campo Missionário
Pr. Capelão Edmundo Mendes Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário