Não
é novidade que a liderança da igreja evangélica contemporânea tem falhado no
ensino e instrução de suas igrejas. Enquanto o apelo pelo funcional e prático
transformou os cultos um modo de moeda de troca pelo benefício da
popularidade, o moralismo e o legalismo se tornaram a referência da
espiritualidade da igreja. Pouco tempo se investe em questões de natureza
ontológica, e muito tempo em questões práticas. Não é à toa que tal inversão de
valores [em comparação com a igreja dos
primeiros séculos] tem criado um rebanho imaturo e despreparado para
defender sua própria fé.
Isso
fica evidente na pesquisa publicada pelo LifeWay Researchintitulada “Americans believe in heaven, hell and
a lit bit of heresy” (Americanos
acreditam no céu, inferno e em algumas heresias). De acordo com Stephen
Nichols, o diretor acadêmico do Ligonier Ministries, a pesquisa “revela
um significante nível de confusão teológica”. Ed
Stetzer afirma que o cristão norte-americano “gosta de acreditar em um tipo de
Deus quasi-cristão com doutrinas de padaria. No entanto, quando perguntado
sobre doutrinas mais complexas, coisas que a igreja considerou e continua
a considerar como ortodoxia, os números mudam”.
SOBRE
A TRINDADE
É assustador como o conceito da Trindade não é compreendido pelos cristãos de
modo geral. Aquela doutrina considerada parte integral das mais
importantes doutrinas do cristianismo parece não ter clara
definição no credo do cristão comum norte-americano. De acordo com a
pesquisa cerca de 70% dos americanos acreditam que existe apenas um Deus
que subsiste em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Ao mesmo tempo, 58%
dos evangélicos entendem o Espírito Santo como uma força e não como uma pessoa,
enquanto 17% acreditam que Jesus Cristo é primeira criatura. Entre os Católicos
o número é ainda mais assustador: 75% acreditam que o ES é uma força, não uma
pessoa e 28% entendem a Cristo como a primeira criatura criada por
Deus. Para piorar, 15% dos cristãos acredita o ES é menos divino que o
Pai, enquanto 33% acreditam que o Pai e mais divino que o Filho. A confusão
teológica aqui é clara, pois é evidente que a definição adotada é negada pelas
definições que assumem. Ao que parece, boa parte dos cristãos tem
dificuldade para entender o conceito.
SOBRE
A BÍBLIA

SOBRE
A SALVAÇÃO

RESUMO
DA ÓPERA
Caso
ainda não tenha ficado evidente, no evangelicalismo norte-americano sobrevivem
três diferentes heresias históricas:
Arianismo: A visão
trinitaria apresentada pelos evangélicos americanos em muito se assemelha com a
doutrina heterodoxa de Ário, o presbítero do quarto século que ganhou
notoriedade ao ensinar que Cristo era a primeira criatura criada por Deus.
Dificilmente os cristãos dos nossos dias conhecem esse homem com detalhes
suficientes para defender suas idéias baseadas no seu ensino. Talvez parte da
confusão tenha sido semeada pelo investimento ‘missionário’ das igrejas
unitaristas e movimentos neo-arianos dos nossos dias. Entretanto, o que é
evidente é que a cultura de consumismo religioso tem extirpado da igreja a
necessidade do ensino aprofundado das escrituras e criado um cristianismo aquém
das Escrituras.
Humanismo: A visão elevado
do homem e de sua auto-suficiencia tem influenciado o pensamento cristão de tal
modo que a salvação tem sido vista como meritória. Em uma cultura na qual o
indivíduo é senhor do seu destino (acadêmico, profissional), o cristão assume
que seu relacionamento com Deus é realizado do mesmo modo. Entre os americanos
a idéia de ‘eu faço’ ou ‘eu posso’ faz parte de sua cultura, e infelizmente tal
ideologia parece ter também invadido a mentalidade dos cristãos. R.C.
Sproul afirma que essa pesquisa aponta “o que fica claro nessa
pesquisa é a penetrante influência do humanismo.” Tal humanismo não afeta
apenas a percepção da salvação do indivíduo, mas também da necessidade da
comunidade para uma vida cristã saudável. O humanismo tem gerado nas igrejas
homens solitários que pensam viver o evangelho isolados do corpo de Cristo.
Pelagianismo: A visão da auto-suficiência
humana tem levado cristãos a afirmarem que a humanidade é habilitada para
voltar-se a Deus sem que qualquer agência divina seja necessária. Aos poucos, o
evangelicalismo norte-americano volta-se para a doutrina de Pelágio, o monge
Britânico que defendeu que o pecado de Adão afetou apenas a Adão e não sua
posteridade, e que, portanto, a humanidade não é inábil para adquirir sua
própria salvação. Essa mesma heresia que foi tão combatida por Agostinho,
encontrou nos ensinos de Pedro Abelardo e Pedro Lombardo seu caminho de volta
para a igreja Católica Romana. Hoje tal doutrina volta a ameaçar a sã doutrina
através dos pregadores da prosperidade e pelo humanismo latente da cultura
norte-americana.
UM
APELO AOS PASTORES
Ninguém
pode garantir que os números da igreja norte-americana representam a
realidade da igreja brasileira, mas meu palpite é que os números não serão
muito diferentes dos que vimos acima. Apesar do humanismo impactar a igreja
brasileira de outros modos, as mesmas três doutrinas estão vivas e muito bem na
igreja brasileira.
Por
isso, gostaria de conclamar nossos pastores para que observem a realidade da
igreja dos nossos dias e ouçam o conselho de Paulo para cuidar da doutrina que
lhes foi confiada. Não acreditem em fórmulas de sucesso manufaturadas pelo
humanismo, nem se rendam a popularidade. Evitem tanto quanto puderem a
superficialidade bíblica e teológica. Não acreditem na mentira do pragmatismo
de que as escrituras não funcionam. Não abandonem o ensino das escrituras, o
discipulado dos cristãos e a mentoria dos líderes da igreja, custe o que
custar.
Afinal,
nós precisamos voltar ao evangelho. Nós precisamos ensinar em
nossas igrejas a mensagem dos apóstolos, aquela mensagem que levou os à
morte e não ao ‘sucesso’. Aquela mensagem que era considerada loucura tanto por
gregos como pelos judeus, mas que ainda assim os apóstolos deram suas vidas
para levar às igrejas. Nós precisamos aprender a perseverar na doutrina dos
apóstolos, como a comunidade primitiva fazia.
Enquanto
o show for mais importante que a adoração, a individualidade mais importante
que a comunidade, a superficialidade mais importante que o ensino das
escrituras, a multiplicação de participantes mais importante que o discipulado
de cristãos, a heresia será apenas mais uma convidada no show de horrores do
cristianismo contemporâneo.
Um abraço em Cristo.
Pr.
Capelão Edmundo Mendes Silva.
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