Precisa
ficar claro que Deus não tem uma missão para Sua igreja, mas uma igreja para
Sua missão. E esta é a missão de Deus, que foi comissionada em João 20:21: “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim
como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.”
O
fato é que a igreja não tem uma missão em si. Mas, devido à entrada do pecado e
ao processo degenerativo que esse trouxe ao mundo, Deus concedeu ao ser humano
o privilégio de participar e se envolver em Sua missão. Jorge Henrique Barros,
professor de Teologia Bíblica da Missão, acha que “missão é manifestar o amor do reino de Deus [...] através de palavras
e obras, com vistas à transformação”. Essa transformação pode ser chamada
de discipulado e faz parte do processo de crescimento em Cristo.
Como
as pessoas crescem espiritualmente? Como crescem no processo do discipulado? Ao
falar do homem justo, o salmo 1 ilustra muito bem esse processo. O verso 3 diz:
“Ele é como
árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto,
e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.”
O
texto mostra que o “justo” (o cristão em crescimento) está em conexão com a
fonte da vida – ele tem íntima comunhão com Deus. Todavia, o texto vai além e
declara que o justo dá fruto, suas obras são manifestas, sua vida não é vazia
nem isolada, ele está envolvido na missão, sendo um canal de bênçãos. Os frutos
são produzidos para beneficiar outras pessoas e para a honra e glória de Deus.
É impossível ser frutífero vivendo isoladamente; precisa haver vida em
comunidade. O amor que vem de Deus, de um constante crescimento e íntima
comunhão com o Senhor, se manifesta nos círculos de relacionamentos humanos.
Por fim, o texto afirma que o justo é bem-sucedido em todas as suas obras. A vida
de comunhão e em comunidade conduz o justo ao seu comissionamento, as obras são
automáticas e ele é bem-sucedido.
Pode-se
resumir dizendo que comunhão + comunidade = missão. Não há como separar uma
coisa da outra, e para haver crescimento sadio no discipulado, as três partes
devem estar conectadas. Ellen G. White esclarece isso ao dizer que “todo
verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário. Aquele que bebe
da água viva, faz-se fonte de vida. O depositário torna-se doador. A graça de
Cristo no coração é uma vertente no deserto, fluindo para refrigério de todos,
e tornando os que estão prestes a perecer, ansiosos de beber da água da vida”.
A comunhão (que
envolve estudo da Bíblia e oração) precisa ser diária, assim como o
comissionamento; já o encontro regular com a comunidade pode ser
repetido uma vez por semana por meio dos pequenos grupos.
Está
ficando cada vez mais comum ver igrejas cheias de membros relativamente
autônomos e distantes, que mais parecem estar cumprindo um compromisso
obrigatório de marcar a presença na igreja do que em buscar uma experiência
genuína de adoração e comunhão coletiva.
Se
a igreja deseja alcançar sucesso, ela precisa seguir os passos de Jesus. Em Seu
ministério, Cristo manteve o foco em um grupo pequeno, que pode ser visto como
um protótipo do discipulado. Jesus dedicou grande parte de Seu ministério
a esse grupo, cujos membros alcançaram os confins da Terra.
Manter
o foco numa equipe contribui bastante para o sucesso no cumprimento da missão. Essa
abordagem (1) produz mais frutos, (2) reúne uma variedade de dons e recursos,
(3) gera mais ideias, (4) provê responsabilidades, (5) oferece encorajamento e
suporte, e (6) treina futuros líderes.
Qual
foi o resultado do método de Cristo? A vida em comunhão e em comunidade, que os
discípulos manifestaram no cenáculo, os conduziu naturalmente ao
comissionamento que gerou o Pentecostes.
A
estratégia usada por Jesus para conduzir as pessoas ao crescimento no
discipulado pode ser dividida em quatro passos (orar, chamar, estar juntos e
enviar) e é resumida em Marcos 3:13-14: “Depois, [Jesus]
subiu ao monte e chamou os que Ele mesmo quis, e vieram para junto dEle. Então,
designou doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar.”
A
passagem paralela de Lucas 6:12-16 diz que Jesus esteve no monte orando por
toda a noite. Eis o primeiro passo da estratégia de Jesus: antes de chamar os
doze, Ele passou a noite orando. Antes de formar Seu grupo, Ele clamou a Deus o
Pai. O mesmo precisa acontecer hoje: a intercessão (oração) é fundamental em
todo processo. O líder deve ter uma vida de comunhão diária.
O
pastor que pretende copiar o modelo criado por Jesus precisa, após muita
oração, chamar aqueles que formarão o grupo protótipo, que passam a fazer
parte de seu relacionamento mais próximo. O líder pode chamar entre três e dez
pessoas com capacidade para aprender, que se deem bem entre si, responsáveis,
maduras na fé e com estilo de vida coerente e saudável.
Essas
pessoas serão futuros líderes de pequenos grupos. Portanto, é preciso escolher
líderes em potencial, de ambos os sexos, de todas as idades, novos e antigos na
igreja. É bom incluir no grupo uma pessoa de oração. Não que os demais não o
sejam, mas alguém conhecido pelo dom da oração. “Jesus escolheu homens [...] dotados de natural capacidade, humildes e
dóceis – homens a quem podia educar para Sua obra. Há, nas ocupações comuns da
vida, muitos homens que seguem a rotina dos labores diários, inconscientes de
possuírem faculdades que, exercitadas, os ergueriam à altura dos mais honrados
homens do mundo. Requer-se o toque de uma hábil mão para despertar essas
faculdades adormecidas”.
Estar
juntos. O verso 14 relata que os chamados “vieram
para junto dEle”, Jesus estava com eles. “A mais elevada obra da educação não é comunicar conhecimentos,
meramente, mas aquela vitalizante energia recebida mediante o contato de mente
com mente, de coração com coração. Somente vida gera vida. Que privilégio,
pois, foi o deles, por três anos em contato com aquela divina vida de onde tem
provindo todo impulso doador de vida que tem abençoado o mundo!”.
Recordando: comunhão
+ comunidade = missão. O líder ensina ao seu protótipo, por meio do exemplo e
ensino,
(1)
a ter uma vida diária de estudo da Bíblia e oração;
(2)
a ter, entre eles, ao menos um encontro semanal para oração, estudo e
planejamento (seu pequeno grupo); (3) a ter um modelo prático de cuidado e
acompanhamento, de modo que eles possam copiar e praticar no futuro em seus
respectivos pequenos grupos;
(4)
a ministrar a cada pessoa no grupo. Um detalhe: quanto mais próximos de Jesus
os crentes estiverem, mais próximos estarão uns dos outros. Portanto, planejem
um retiro espiritual em um fim de semana. Depois, aguardem a atuação do
Espírito Santo.
Enviar. Chega
o momento em que o líder deve encaminhar os membros do grupo a liderar seus
próprios pequenos grupos, para que o modelo de crescimento seja reproduzido.
Cada dupla do protótipo forma um novo pequeno grupo. O pequeno grupo (ou mais
de um pequeno grupo) pode formar uma nova igreja.
Eis
uma visão geral do processo do protótipo:
Comunhão: (1)
orar; (2) chamar;
Comunidade: (4)
estar juntos;
Missão: (5)
enviar.
Finalmente,
o líder precisa ter cuidado para que o protótipo e a reunião do pequeno grupo
sejam conduzidos dentro do mesmo processo de crescimento apresentado pela
Palavra de Deus: comunhão, comunidade e missão.
Numa
reunião, deve-se começar com a comunidade (conversar sobre a semana,
desafios, etc.), depois é que se passa para a comunhão, fazendo a
transição com uma oração, que pode mencionar algo que foi compartilhado na
primeira parte. Em seguida, prossegue-se com o estudo da Bíblia, de forma
dinâmica e participativa. A última parte é a condução das pessoas para a
missão, desafiando-as a alcançar outras pessoas e a desenvolver novos pequenos
grupos. Lembre-se de que a bênção alcançada deve ser reproduzida.
O
discipulado precisa ser levado adiante e não existe uma única forma pela qual
ele deva ser conduzido, todavia os pequenos grupos e o protótipo formam um
ambiente natural para seu progresso e estão em plena harmonia com o que foi
desenvolvido por Jesus como exemplo de discipulado para a igreja em todas as
épocas.
Um abraço em Cristo.
Pr. Miss. Capelão Edmundo Mendes Silva
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