O assunto plantio de igrejas deve ser observado sob a perspectiva da
missão, ou seja, o resultado do desejo de Deus que envolve a ação da Igreja.
Um dos maiores perigos existentes no processo de plantar igrejas é
defrontar-se com um cenário onde a missão da Igreja está desassociada da missão
de Deus, a Missio Dei. E isso ocorre quando a Igreja segue sua própria
agenda, de plantio ou crescimento, por motivações próprias e antibíblicas. Não
para a glória de Deus, mas para a glória da igreja. Não para alcançar os
perdidos, mas para fortalecer a denominação. Não para exaltar Jesus, mas para
exaltar os seus líderes.
Michael Green, em seu comentário do evangelho segundo Mateus, 27 expõe que, na Igreja primitiva, a missão era um conceito fácil de ser
compreendido. O desejo de Cristo - de ser anunciado a todos - era claro para
cada crente. Essa missão, porém, apesar de clara e facilmente compreendida, era
complexa em sua execução, pois demandava sair de Jerusalém, abrir mão de uma
estrutura eclesiástica local já em formação que providenciava um senso de
conforto para os cristãos.
Muitos missiólogos compreendem que o plantio de igrejas, e não apenas
o evangelismo individual, é um ensino contido na grande comissão, o que creio
ser evidente. Hesselgrave, Johnstone e Bosch manifestam-se de forma marcante
nessa compreensão expondo que o fazer discípulos da grande comissão é uma ordem
que desembocaria no agrupamento dos crentes, formação de igrejas locais, expansão do Reino de Deus. Johnstone
entende que fazer discípulos, batizando-os e ensinando-os a Palavra de Deus,
implica em “uma vasta diversidade de atividades envolvendo os crentes em uma
comunidade com a qual se relacionarão e prestarão contas”.
Richard Hibbert expõe o pensamento de Love quando esse defende a
ligação entre a grande comissão e o plantio de igrejas com base em Atos
14.21-23, que contém o mais conciso relato sobre plantio de igrejas no Novo
Testamento. O termo usado no verso 21 (fizeram
muitos “discípulos”) vem do verbo matheteo usado em
Mateus 28.19, na grande comissão. Esses são os únicos dois lugares em que o
verbo é usado no Novo Testamento. Expressa o desejo de Cristo para seus
discípulos na grande comissão e, a partir dela, Seu desejo de ver esse grupo de
discípulos gerando novos grupos que amam e seguem e Jesus, ou seja, plantando
igrejas.
Em razão desse pensamento, Hibbert menciona que: “Tenho argumentado
que o plantio de igrejas é peça fundamental na Missio Dei. Sem o plantio
de novas igrejas o propósito de Deus não é realizado na terra. A transformação
da sociedade na direção de Deus ocorre através da sua agência, a Igreja, e
assim comunidades locais de convertidos são a maior expressão de sua presença e
seu desejo transformador”. Assim, perdendo a Igreja a prioridade da grande comissão, perderá
também o caminho para o cumprimento do desejo de Cristo: uma comunidade de
santos pregando um evangelho transformador e gerando, no poder de Deus, outras
comunidades que seguem e amam o Senhor. Inquieto-me ao ver uma atual verdade
nas antigas palavras de Cirenius, teólogo bizantino, ao afirmar que a Igreja “sofrera a tentação de desenvolver a sua
personalidade e perder a sua finalidade”. À imagem do primeiro homem, a
Igreja também peca quando esquece o porquê está aqui e imagina ser suficiente
apenas o existir. Torna-se assim tal qual uma linda rosa vermelha... a qual
nasce, cresce, murcha e morre em um campo distante sem ser vista por ninguém,
sem dar prazer a nenhum olhar.
Vivenciamos a tendência da errática cristã, a qual
tenta incluir-se nas bênçãos do evangelho e se autoexcluir de sua prática: a
antibíblica vontade de ver a terra arada sem por as mãos no arado.
Igreja – O Conceito Neotestamentário
A Igreja no Novo Testamento é o resultado de uma construção de valores
e fatos. A compreensão de Igreja que os discípulos possuíam crescia em estágios
bem demarcados. Em um primeiro momento, havia a compreensão da Igreja a partir
e ao redor dos apóstolos. Jerusalém tornou-se não apenas o palco para a
permanência dessa igreja como também um símbolo de centralização. Em outro
estágio encontramos o conceito dos gentios que não apenas passaram a ser
evangelizados a partir de Antioquia, mas passaram, eles mesmos, a definir o
conceito crescente de Igreja nas mentes e corações dos convertidos. Outro
estágio ainda, após o enraizamento de igrejas locais espalhadas por todo o
mundo gentílico através da dispersão dos crentes em Atos 8 e do envio de Paulo
e Barnabé em Atos 13, as próprias igrejas locais passaram a plantar igrejas
locais. Michael Green chama nossa atenção para esse momento em que não apenas
Jerusalém, mas os discípulos pioneiros, deixaram de ser o centro motivador do evangelismo.
Agora, as igrejas locais passam a olhar ao redor e começam a plantar novas
igrejas.
O Espírito Santo, no Pentecostes, conferiu autoridade à Igreja para a
sua missão. Assim, milhares de homens e mulheres, cheios do Espírito Santo,
passavam a apresentar as Boas Novas por onde quer que chegassem. Esses - do
caminho - não possuíam ainda uma eclesiologia definida, porém eram
alimentados pela Palavra, a partir do ensino dos apóstolos, havendo entre eles
um ambiente de comunhão, dedicação à oração e proclamação de Jesus.
Creio ser relevante, para nosso estudo sobre plantio de igrejas,
entendermos um pouco do perfil desta Igreja no Novo Testamento, pois boa parte
da problemática no processo de plantar igrejas advém da má compreensão da
natureza da própria igreja pelo que a planta.
Igreja de Deus
Devemos, inicialmente, identificar alguns conceitos bíblicos que nos
ajudarão a compreender o significado neotestamentário de “Igreja”.
Comumente encontramos no Novo Testamento a expressão “Igreja de
Deus” (“Ekklesia tou Theou”), o que
evidencia que essa Igreja veio de Deus e pertence a Ele. É uma comunidade que
possui Deus como fonte; é eterna, espiritual e universal. Não provém de
elucidação humana ou de uma obsessão. Permanecia em Jerusalém, mesmo depois de
ter sido revestida de poder no Pentecostes. Após Atos 8, com a forte
perseguição da Igreja, os crentes foram dispersos e iam por toda parte pregando
a Palavra. Em meio à crise, a Igreja foi gradualmente perdendo seu apego
territorial a Jerusalém e envolvendo-se com as comunidades cristãs que nasciam
em território gentílico. A própria Igreja em Antioquia, enviadora de Paulo e
Barnabé em Atos 13, eram formados, primariamente, por judeus convertidos. É
notório, portanto, que a visão da Igreja se expande se aproximando mais da
visão do seu Senhor. Compreendeu-se que a igreja local não pertence ao local,
pertence ao Corpo que é dinâmico e se expande segundo a Cabeça, que é Cristo.
Plantadores de igrejas não devem ser limitados pela geografia ou
territorialidade. Sua missão é focada em pessoas, sejam do grupo alvo ou outros
que estão ao seu redor; da etnia que estuda ou outra que se aproxima. Onde
houver uma porta aberta e um coração sem Deus, ali devemos apresentar o
evangelho, pois na cosmovisão do Senhor a igreja é formada por pessoas. Onde há
pessoas há possibilidade de vermos nascer a igreja de Cristo.
Igreja Humana
Também dentro do conceito de “Igreja” nos deparamos no Novo
Testamento com um perfil bastante humano. Em 1 Tessalonisenses 1.1, por
exemplo, vemos “igreja de Tessalônica” (“ekklesia Thesalonikeon”) dando-nos a
ideia daqueles que são Igreja também sendo tessalônicos, cidadãos de
Tessalônica.
Mostra-nos o fato de que por serem “Igreja” não significa que
deixam de ser cidadãos, patriotas, carpinteiros, lavradores, comerciantes,
desportistas, pais, mães ou filhos. “Igreja” no Novo Testamento não é
apresentada como uma comunidade alienante, mas como uma comunidade que abrange
o homem em seu contexto humano, fazendo-nos entender que essa Igreja não foi
separada do mundo, mas purificada dentro dele.
No livro de Atos, a humanidade, passo a passo, era
chocada com a fé daqueles que “transtornavam o mundo”, segundo a qual
o viver é Cristo, o objetivo era ganhar almas, a alegria era a adoração, o que
os unia era a verdadeira comunhão, o amor era traduzido em ações, os fortes
guiavam os fracos, as dificuldades eram enfrentadas com oração, a paz enchia os
corações. O Mestre enfatiza que “não vos compete conhecer tempos ou
épocas”. Para a expressão “tempos ou épocas”
o texto poderia utilizar o mesmo termo encontrado no versículo 6: “chronos”.
Dessa forma, Jesus estaria dizendo que não era da competência dos discípulos
conhecerem o “tempo humano” (dia, mês e ano) em que o Reino seria
restaurado. Assim, Jesus condicionaria o assunto escatológico a um plano
humanamente inteligível. Outra opção textual seria a utilização do termo “kairos”
para “tempos ou épocas” na resposta de Cristo e, assim, enfatizaria
que “não vos compete conhecer o tempo de Deus”, ou seja, “os fatos e
acontecimentos que assinalavam um momento certo ou errado de algo acontecer”,
nas palavras de Tertúlio Cônico. Dessa forma, Jesus afirmaria que não era da
competência dos discípulos conhecerem o “tempo de Deus”, o momento
apropriado na economia do Pai para que o Reino chegasse. Para nossa surpresa
textual, a expressão “tempos ou épocas” no versículo 7 utiliza ambos os
termos e conceitos: “chronous kai kairous” (o
tempo humano e o tempo divino) e, com isso, o texto afirmava que a prioridade
de Jesus não era escatológica (os últimos dias, os eventos finais, a consumação
dos séculos), mas missiológica. O versículo 8 intervém com a expressão “mas recebereis poder
ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas...”.
Com essas palavras Jesus explicava o Reino: Ele criara uma Igreja funcional e
não apenas contemplativa, nascida para espalhar a Sua Palavra a todos os povos,
em todas as gerações, até a Sua volta. Paulo entende esse princípio e, em
Romanos 15.20, explica que “aqueles que nada ouviram”
são a prioridade de Deus em relação à evangelização mundial. Isso pode ser
perto ou pode ser longe, tanto em uma tribo isolada quanto do outro lado da
rua. O valor de uma alma, para Deus, é o mesmo: mais que o mundo inteiro.
Igreja – O Processo Do Envio
Olharemos para a igreja em Antioquia como paradigma
de envio, compromisso evangelístico e força plantadora de igrejas. A proposta é
fazê-lo sonhar com esse modelo bíblico. Não foram Paulo e Barnabé que iniciaram
esse grande movimento de plantio de igrejas entre os gentios, mas uma igreja,
sensível ao Espírito, com a visão do Reino, temor à Palavra e pronta para
servir. Igrejas plantam igrejas.
“Ora,
na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão,
chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. E
servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me a
Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, depois que
jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram”. (At 13.1-3)
O versículo 1 enumera cinco líderes da igreja em Antioquia descritos sob a categoria de “profetai kai didaskaloi”
(profetas e mestres). “Profetes” era aquele que “falava em nome de
Deus” e, também, utilizado no grego ático tanto para “pregador”
quanto para “expositor das leis”. O “Didaskalos” é o mestre (de “didasko”:
ensino) aplicado para aquele que possui discípulos. Parece-me que, nesse caso,
esses “didaskaloi” estavam mais ligados à instrução dos novos
convertidos em Antioquia. Nessa lista, primeiramente, é mencionado Barnabé, o
qual era “natural de Chipre”. Em seguida,
Lucas cita Simeão referindo-se, provavelmente, a um africano “Níger”
(negro) e menciona Lúcio “de Cirene” provindo do norte da África. Também
lista Manaém, colaço (“syntrophos”: irmão de leite) de Herodes e,
finalmente, Saulo.
O versículo 2 começa com uma ação coletiva: “e
servindo eles ao Senhor...”. E as duas
perguntas que devem ser aqui levantadas são: quem são “eles” e como serviam ao
Senhor? Há três possibilidades para entendermos “eles”, já que o texto não o
define: refere-se a toda a igreja em Antioquia; ou apenas aos cinco líderes do
verso anterior; ou ainda, especificamente, a Paulo e Barnabé, mencionados
separadamente logo após.
Por ausência de ligação textual, creio que podemos excluir a “igreja
em Antioquia” restando-nos os cinco líderes do versículo 1 e Paulo e
Barnabé do versículo 2. De qualquer forma, esses últimos são também mencionados
na lista de líderes; portanto, os utilizaremos como pressuposto para “eles”.
Sigamos para a pergunta principal: como serviam ao Senhor?
Leitourgoi
– Edificadores do Corpo de Cristo
O verbo “servindo” (leitourgounton), utilizado aqui,
aponta para aqueles que serviam ao Senhor como “leitourgoi” - servos.
Lembremo-nos de que havia três formas de alguém se apresentar como “servo”
no contexto neotestamentário:
1.
Como “doulos” - o escravo. Nas palavras de Candus: “Aquele que
pessoalmente acompanha o seu Senhor para realizar os desejos do seu coração”. Portanto “doulos”, no contexto do Novo Testamento, é aquele que
tem um compromisso direto com Deus; que serve pessoalmente ao seu Senhor.
2.
Como
“diakonos” - o mordomo.
Aquele que serve ao seu Senhor através do serviço à comunidade. Na Bíblia, o
termo é usado para aqueles que, sensíveis à necessidade do Corpo de Cristo -
física e espiritual - servem a Deus.
3.
Como
“leitourgos” - o edificador.
O termo, ligado à “leitourgia” (liturgia), não é restrito como o usamos
hoje. Refere-se àquele que serve ao Senhor sendo usado por Ele para abençoar e
edificar o seu irmão. E esta é justamente a raiz do verbo que expressa que
Paulo e Barnabé “serviam” ao Senhor afirmando, portanto, que eles eram,
antes de tudo, “abençoadores” ou “edificadores” do Corpo de
Cristo em Antioquia. Eram uma bênção, como se pode falar hoje.
Portanto, a primeira característica apontada pelo texto a respeito
desses dois homens, que iniciaram a obra missionária como a conhecemos hoje,
não foi à competência intelectual, o título ministerial ou a profundidade
teológica, mas a fidelidade de vida em relação aos de perto, aqueles que os
rodeavam em Antioquia.
Uma aplicação objetiva do texto seria esta: não envie para longe aqueles que
não são uma bênção perto. Aquele rapaz que diz possuir um claro chamado
ministerial, se não tiver, primeiramente, um desejo ardente pelo ministério
comprovado pelo serviço em sua igreja local, certamente, não o terá em lugares
distantes. Ele não está pronto para ser enviado ao seminário. Aquela jovem que,
insistentemente, afirma ter um claro chamado ministerial para a obra
missionária em algum lugar distante, se não o demonstrar, onde está, com os
ministérios e oportunidades locais, não o fará também do outro lado do mundo.
Ela não está pronta para ser enviada ao preparo ou ao campo.
Um plantador de igrejas que, localmente, não evangeliza e não apresenta
disposição para cooperar com as excursões evangelizadoras da igreja, certamente
não demonstrará nada diferente em outras paragens.
Spurgeon
já falava em 1885 que “nada é mais
difícil do que se mostrar fiel aos de perto que bem lhe conhecem” e,
aqui, três rápidas aplicações poderiam ser feitas.
§
Pessoal. Não
há nada mais perto de nós do que a nossa família. Aquele que não pode ser
apontado pela esposa, esposo ou filhos como leitourgos no dia-a-dia de
sua casa, dificilmente será uma bênção fora dela, seja ele um professor,
pastor, missionário ou crente.
§
Ministerial.
Líderes e pregadores que se destacam nos púlpitos e salas de aula de igrejas e
seminários, mas fracassam com a família, amigos e pessoas chegadas, não estão
prontos para o ministério. Plantadores de igrejas que são exímios no que fazem,
nas ruas, praças e templos, porém não têm testemunho de Cristo entre os seus,
não estão qualificados ao envio. O ministério não define o próprio ministério.
O caráter de Cristo em nós é que o faz.
§
Eclesiástico. Não há nada mais perto da
igreja do que a própria igreja, os irmãos com os quais nos encontramos a cada
semana. Se uma comunidade cristã não demonstra ser leitourgos, abençoadora,
para aqueles com a qual convive dia a dia, culto a culto, dificilmente
conseguirá fazer diferença em outros lugares, seja perto, seja longe.
Aphorizo – Separando para o envio
O
texto diz que servindo eles ao Senhor, “disse o Espírito Santo: separai-me...”. O
texto não esclarece como o Espírito se manifestou e falou à igreja, mas toda a
ação deixa bem claro que a igreja, prontamente, ouviu.
O conteúdo do que Ele
falara foi “separai-me” (aphorisate),
do verbo “aphorizo”, o qual é um verbo exclusivista também usado em
Mateus 25.32, quando o pastor “separa” as ovelhas dos carneiros. “Aphorizo”
se diferencia de “ekklio”, pois não se trata de uma separação de
relacionamento (foram excluídos
da igreja de Antioquia), mas de uma separação para uma função (permanecendo
ligados à igreja, são agora designados para uma função além da igreja local). É
o mesmo termo usado nos Documentos de Cartago quando cidadãos comuns
eram chamados para engrossar as fileiras do exército romano. Portanto, Paulo e
Barnabé seriam separados porque, primeiramente, haviam sido chamados e não o contrário.
É bom também entendermos que “ergon” (a obra) para a qual foram
chamados é um termo genérico que tanto pode significar um ato quanto uma função
e poderia ser usado por ser essa obra já bem conhecida por todos na Igreja – a
evangelização dos gentios – ou também para chamar a atenção para o ponto
principal deste comando: não a obra, mas quem os chamou para essa obra.
Demonstra também flexibilidade ministerial indicando que a obra pode mudar, mas
o chamado permanece, pois se baseia naquele que nos chamou.
A expressão “jejuando e orando” vem como um conjunto que se completa já que,
segundo Stott, “o jejum é uma ação negativa (abstenção de comida e outras
distrações) em função de uma ação positiva (culto e oração)”, e, em subseqüência, “impondo sobre eles as mãos...” trás a expressão “epithentes tas cheiras”,
que possui vasto significado para o conceito de envio missionário. Vejamos os
principais:
Sinal de Autoridade. Este “impor de mãos” remonta ao grego
clássico, quando um pai impunha suas mãos sobre o filho que lhe sucederia na
chefia da família, ou seja, uma transferência de autoridade. Para Paulo e
Barnabé, isso significaria que eles possuíam a autoridade eclesiástica para
fazer tudo o que a Igreja faria mesmo onde ela não estivesse presente, como
comunidade. É, portanto, ao mesmo tempo, uma carga de autoridade e
responsabilidade. Como igreja em Antioquia, eles poderiam pregar a Palavra,
orar pelos enfermos e desafiar os incrédulos, mas precisariam também
compartilhar da mesma fidelidade e dedicação que existia naquela comunidade dos
santos.
Sinal de Reconhecimento. Também era usado em momentos oficiais
como na cidade de Alexandria, quando 20 oficiais foram escolhidos especialmente
para guardar a entrada da cidade que sofria com frequentes ataques de nômades,
e sobre eles “foram impostas as mãos” em sinal de reconhecimento de que
eram dotados das qualidades para aquela função. Para Paulo e Barnabé,
isso consistia no fato de que a liderança da igreja reconhecia não apenas o
chamado (que era claro), mas a capacidade e dons para cumprirem a missão.
Sinal de Cumplicidade. Encontramos também no grego clássico o “impor de mãos” no
sentido de cumplicidade quando generais eram enviados a terras distantes para
coordenar uma província e as autoridades enviadoras impunham as mãos
demonstrando ao povo que eles não seriam esquecidos, ou seja: permaneciam como
parte do corpo. Para Paulo e Barnabé, significaria dizer que, por mais
distantes que fossem, permaneceriam ligados à igreja de Antioquia. Que essa
igreja continuaria responsável por eles, amando-os, desejando o melhor e, com
certeza, sustentando-os. Ao meu ver, impor as mãos como sinal de autoridade e
reconhecimento não é tão difícil como impô-las como sinal de cumplicidade, pois
esse último é um ato contínuo que demanda dedicação e profundo amor. Kent
Norgan afirmou que “é mais fácil amar aquele que se vê e ter compaixão ao
que está sempre ao seu lado”.
Por fim, a igreja “...
os despediu” (apelusan),
do grego “apoluo”, que significa “fazer as honras do envio”.
Creio que havia aqui um aspecto prático, pelo qual líderes e irmãos pensaram
também nas necessidades imediatas de Paulo e Barnabé, para a viagem e
ministério. “Apoluo” é uma expressão formal, portanto leva-nos a crer
que não foram despedidos de forma simples, mas antes houve um culto no qual a igreja oficialmente se reunira para
enviá-los: um abençoado culto de envio.
Em Cristo
Pr. Capelão Miss. Edmundo Mendes Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário